quinta-feira, 16 de maio de 2013

HISTÓRIA DA LOUCURA



Laurence Bittencourt (*)
A história da loucura já tem um razoável caminho percorrido, isso desde os gregos antigos e que envolveu (e envolve ainda) um acalorado debate sobre as suas causas e motivações. É muito comum (e correto) se afirmar que para os gregos antigos, a começar por Homero, a loucura era vista como algo “de fora”, imposta pelos deuses, sendo os homens meros “bonecos” ou fantoches em suas mãos. O louco era alguém possuído por uma força exterior.
Erasmo de Rotterdam
Erasmo de Rotterdam
Coube a Hipócrates (também grego), uma percepção diferente dos seus conterrâneos, menos “espiritual”, tentando mostrar que não havia doença e sim doentes, com um olhar mais materialista sobre essa ideia. Hipócrates acreditava que a epilepsia (tida como um Mal sagrado) era uma enfermidade natural com origem no cérebro e que a maioria das chamadas doenças resultava de transtornos de humores.
Já na Idade Média com a ascensão do cristianismo (ao poder), houve uma radicalização sobre o caráter de exterioridade da loucura, atribuindo suas causas ao “demônio”, sendo a mesma uma espécie de produto do pecado, e com isso, responsabilizando novamente o sujeito acometido por ela.
Não é à toa, que epidemias e pestes também tinham como causa “desvios” do homem pelo maligno, o que terminou levando a criação da “Inquisição” como forma de “curar” esta doença espiritual. Claro que mesmo na Idade Média, houve quem pensasse diferente ou mesmo resistisse a tal motivação como, por exemplo, Erasmo de Rotterdam ao escrever o clássico e subversivo “Elogio da Loucura”. Mas não foi o suficiente para fazer contraponto ao bloco monolítico católico.
Na Idade Moderna a loucura foi retirada do campo sagrado e colocada dentro do altar da razão, ou melhor, como uma desrazão. E coube a Philiphe Pinel dar o grande passo de separar o louco do criminoso, afastando o aspecto de julgamento moral que se abatia sobre ela. Nesse mesmo caminho foi importante a participação de Hegel ao afirmar (1817) que a alienação mental não seria a perda abstrata da razão e sim que a loucura seria decorrente de uma contradição interna à própria razão e com isso abriu as portas para o entendimento da loucura como a de uma doença mental.
Se opondo a esse caminho irá surgir na contemporaneidade a chamada anti-psiquiatria, mas a meu ver, o mais brilhante teórico a se opor a idéia de doença, será Michel Foucault para quem a loucura tinha como “causa” a própria cultura, ou seja, o social, que determinaria quem era louco e quem não era. Para Foucault em todas as épocas, a própria cultura definiria o que era a loucura.
Foucault, portanto, situava a loucura como não sendo algo natural e sim cultural (ou se quiserem antropológica). Mas será com a psicanálise que o conceito de loucura ganhará melhores definições e terminologias, ao entendê-la como algo situado não como um déficit neurológico, mas como um acidente no percurso no chamado “complexo de Édipo”.
“Não é louco quem quer”, escreveu Jacques Lacan quando ainda era um jovem psiquiatra numa das salas de plantão de um hospital psiquiátrico em Paris. Isso explica de uma forma muito mais nítida e compreensível porque certos sujeitos mesmo tendo uma estrutura psicótica, não desencadeiam a própria psicose ou surto psicótico.
(*) Jornalista. laurenceleite@bol.com.br

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