Sandra Starling
Retornando de uma viagem à Europa, não posso pintar um quadro otimista diante do que vi. Na Alemanha e no Reino Unido, cresce a aversão à União Europeia. Todos viram o excepcional desempenho, nas eleições municipais, de um partido britânico que apregoa o divórcio entre os britânicos e os habitantes do continente europeu. Entre os alemães, que passarão por eleições em setembro – e correm o mesmo risco dos italianos no que diz respeito à formação de um governo estável –, surge, agora, um partido, Alternativa para a Alemanha, que tem como lema a substituição do euro pelo velho marco alemão. E as pesquisas eleitorais lhe são bem favoráveis.
Por outro lado, vi, durante as comemorações do aniversário da Revolução de Abril, em Lisboa, o mais profundo estranhamento em relação aos alemães. Não poucas vezes, cartazes de Angela Merkel são acrescidos que um repugnante bigode, cuja origem todos conhecem. E isso se repete na Espanha, na Itália e na Grécia. Na Bulgária, dois blocos partidários autoritários ganharam projeção nas últimas eleições. A Rússia dispensa comentários. E, como se tudo isso não bastasse, as bombas que explodiram na Turquia, país filiado à Otan, podem levar a uma incontrolável ampliação do conflito sírio.
Tudo isso posto, podemos dizer que o sonho da cidadania europeia, que foi acalentado há pouco com um prêmio Nobel da Paz, parece cada vez mais distante. A passagem de uma institucionalidade confederativa para uma sólida federação, aos moldes dos Estados Unidos da América, embora necessária, parece ser uma estrada que não vai dar em nada.
NEONAZISMO
Um casal de amigos alemães, que viveu o horror da Segunda Guerra Mundial, me afirmou que o desconforto atual se assemelha, em muitas coisas, com o mal-estar da década de 1920 do século passado. E ele profetiza: infelizmente, um novo ciclo nazifascista se implantará na Europa. E aqui nem vale a pena comentar os desacertos diplomáticos nas costas asiáticas do Pacífico.
Evidentemente, estamos atravessando um período de desarranjos nas áreas de influência política e econômica. Se quiséssemos utilizar uma linguagem que muitos julgam ultrapassada, diríamos que as grandes potências testam seus projetos de hegemonia, para não falarmos de suas pretensões imperialistas. Mesmo os membros dos BRICS dão lá suas trombadas, especialmente no continente africano.
Falo disso pensando no Brasil. Gostaria de ver os que já vão se articulando para a disputa da Presidência da República tratar desses temas, que deveriam nos interessar mais de perto. Um exemplo de questão: o que esperar de uma OMC, agora sob a direção de um brasileiro, ante a fúria por acordos bilaterais de comércio, sendo o mais importante deles o que Obama propõe para salvar a si próprio e a Europa?
Mas, entre nós, isso pouco importa. Tudo indica que partiremos para as próximas eleições sob o signo da mesma mediocridade de sempre. E, depois, que não venhamos dizer que nos arrependemos de nossas escolhas equivocadas. (transcrito do jornal O Tempo)
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