EUGÊNIA RIBAS-VIEIRA
Dizer a América Latina é justamente se debruçar num contexto em que se combinam, de forma contraditória, sentimentos de adesão, identidade, e de dúvida, rejeição. A Editora Rocco lança o livro Asco: Thomas Bernhard em San Salvador.
Este livro é uma queixa contra seu país de seu início ao seu final. Seu narrador, Vega, se vê forçado a voltar ao país para o funeral de sua mãe, que deixa como herança uma casa em Miramonte, cujo destino é Vega quem decidirá. Nosso narrador, contudo, quer se ver livre da herança e vendê-la o quanto antes, assim como da memória de seu país, que prefere desembuchar num bar, para o companheiro, Moya.
A cerveja Pílsener é o motivo, impalatável, de uma série de desgostos. Das filas nas lanchonetes da Pizza Hut, à falta de leitura da população. Com o fluxo de pensamento comum ao autor Thomas Bernhard, o patriotismo de Vega dissolve-se em autoritárias negações, e aos poucos, a medida que fala, e, à medida da cerveja, se liberta de sua nacionalidade. Vega vive no Canadá, onde ensina história numa universidade. O leitor há de pensar, por mais que Asco não esclareça, o ensino de uma história em país estrangeiro sem raízes patriotas, uma história idiossincrática, de uma pátria como se não fosse.
A pátria é íntima, afirma Vinícius de Morais, no poema Pátria minha. E em contato com a dor do tempo, Vega perpassa apenas por negações sobre sua terra natal. E não se para de falar mal, por mais que o objeto – San Salvador - seja único, destacado e poderoso em seu discurso. San Salvador lhe é motivo de desgosto, mas ainda está presente, e se reflete com a raiva nas escolhas de palavras. Um verdadeiro asco, que sublime, subjetiva-se num cidadão que não volta ao seu amigo para falar de si, para falar da perda de sua mãe. Sua única dor é o seu não-lugar, seu desterro voluntário e definitivo.
Apesar de Asco ter recebido críticas árduas pelos salvadorenhos, do livro ser “uma bofetada na cara”, enxerga-se aí uma identidade, finalmente. Algo que poderia se sugerir de conjunto, do que poderia se chamar América Latina: sua interrupta crítica a si mesma . “Somos todos irmãos/ não porque dividamos/ o mesmo teto e a mesma mesa:/ divisamos a mesma espada/ sobre nossa cabeça” - Trecho de poema de Ferreira Gullar: “Nós Latino-Americanos”.
Asco é um lançamento da coleção Otra Língua, organizada por Joca ReinersTerron. Dedicada somente a autores hispano-americanos, Otra Língua deseja lançar títulos ainda pouco conhecidos no Brasil, apesar de celebrados pela crítica internacional. Asco conta ainda com a tradução impecável de Antonio Xerxenescky e a leitura aguçada no posfácio de Adriana Lunardi.
Este livro é uma queixa contra seu país de seu início ao seu final. Seu narrador, Vega, se vê forçado a voltar ao país para o funeral de sua mãe, que deixa como herança uma casa em Miramonte, cujo destino é Vega quem decidirá. Nosso narrador, contudo, quer se ver livre da herança e vendê-la o quanto antes, assim como da memória de seu país, que prefere desembuchar num bar, para o companheiro, Moya.
A cerveja Pílsener é o motivo, impalatável, de uma série de desgostos. Das filas nas lanchonetes da Pizza Hut, à falta de leitura da população. Com o fluxo de pensamento comum ao autor Thomas Bernhard, o patriotismo de Vega dissolve-se em autoritárias negações, e aos poucos, a medida que fala, e, à medida da cerveja, se liberta de sua nacionalidade. Vega vive no Canadá, onde ensina história numa universidade. O leitor há de pensar, por mais que Asco não esclareça, o ensino de uma história em país estrangeiro sem raízes patriotas, uma história idiossincrática, de uma pátria como se não fosse.
A pátria é íntima, afirma Vinícius de Morais, no poema Pátria minha. E em contato com a dor do tempo, Vega perpassa apenas por negações sobre sua terra natal. E não se para de falar mal, por mais que o objeto – San Salvador - seja único, destacado e poderoso em seu discurso. San Salvador lhe é motivo de desgosto, mas ainda está presente, e se reflete com a raiva nas escolhas de palavras. Um verdadeiro asco, que sublime, subjetiva-se num cidadão que não volta ao seu amigo para falar de si, para falar da perda de sua mãe. Sua única dor é o seu não-lugar, seu desterro voluntário e definitivo.
Apesar de Asco ter recebido críticas árduas pelos salvadorenhos, do livro ser “uma bofetada na cara”, enxerga-se aí uma identidade, finalmente. Algo que poderia se sugerir de conjunto, do que poderia se chamar América Latina: sua interrupta crítica a si mesma . “Somos todos irmãos/ não porque dividamos/ o mesmo teto e a mesma mesa:/ divisamos a mesma espada/ sobre nossa cabeça” - Trecho de poema de Ferreira Gullar: “Nós Latino-Americanos”.
Asco é um lançamento da coleção Otra Língua, organizada por Joca ReinersTerron. Dedicada somente a autores hispano-americanos, Otra Língua deseja lançar títulos ainda pouco conhecidos no Brasil, apesar de celebrados pela crítica internacional. Asco conta ainda com a tradução impecável de Antonio Xerxenescky e a leitura aguçada no posfácio de Adriana Lunardi.
*Eugenia Ribas-Vieira sempre trabalhou com livros. Depois de cinco anos de experiência no departamento editorial da Rocco, hoje trabalha com Jorge Bastos Moreno e auxilia em seus projetos literários.
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