sexta-feira, 19 de abril de 2013

Bairro milionário de Londres vive deserto


Quando cai a noite em Belgravia, local de alguns dos imóveis mais caros do mundo, a impressão que se tem é que quase ninguém está voltando para casa. Metade das janelas fica às escuras. As únicas pessoas que têm condições financeiras de residir no bairro não querem realmente fazê-lo.
No ano passado, a imobiliária Savills constatou que pelo menos 37% das pessoas que compraram imóveis nos bairros mais caros da zona central de Londres não pretendiam que os imóveis fossem suas principais residências.
“Belgravia tem cada vez menos habitantes”, disse o corretor imobiliário Alistair Boscawen. Ele trabalha na região que descreve como “a área maluca” de Londres, “onde os preços das casas são insanos” – variando de US$ 7,5 milhões a US$ 75 milhões.
Cada vez mais, os compradores desses imóveis são estrangeiros de altíssimo poder aquisitivo vindos de lugares como Rússia, Cazaquistão, Sudeste Asiático e Índia. Para eles, Londres é apenas uma escala a mais numa vida perambulante que pode também incluir estadias em Nova York, Moscou e Mônaco.
Poucas pessoas caminhavam pela Elizabeth Street alguns dias atrás. Uma colombiana residente em Belgravia fazia compras num pet shop onde as caminhas de cachorro custam US$ 358. Ela comentou que apenas dois ingleses vivem em sua rua e que é difícil saber quando muitos de seus vizinhos estão ou não em casa. “Há franceses, americanos, a Petra Ecclestone [a filha do chefão da Fórmula Um] e russos”, disse a residente, descrevendo seus vizinhos mais próximos.
Londres não é a única cidade onde as pessoas mais ricas do mundo deixam imóveis caros vazios. Mas a diferença aqui é que uma parte muito grande dos proprietários é formada por estrangeiros, e eles parecem estar comprando bairros inteiros.
Paul Dimoldenberg, líder da oposição trabalhista na Câmara de Westminster, disse que a situação está começando a preocupar os parlamentares. “Essas pessoas podem viver aqui por 15 dias no verão”, disse ele, “mas, no restante do ano, não contribuem em nada para a economia local”.
O mercado imobiliário de Londres está em situação distinta da do resto do país, que está fraco desde a crise de 2008. Nos últimos cinco anos, os preços de imóveis residenciais fora da capital caíram 10%, mas em Londres tiveram alta de 21%.
A imobiliária Savills constatou que, em 2011 e 2012, 34% das pessoas que adquiriram imóveis residenciais usados nas áreas de mais alto padrão de Londres foram estrangeiras, número que em 2007 tinha sido de 24%. Nos locais mais exclusivos, 59% das vendas foram feitas a estrangeiros.
Compradores britânicos gastam em média US$ 2,25 milhões para adquirir um imóvel para uma família nas áreas mais caras de Londres, enquanto compradores estrangeiros gastam em média US$ 3,75 milhões, valor que sobe para US$ 7,5 milhões se eles são originários da Rússia ou do Oriente Médio, disse Yolande Barnes, da Savills.
O mais conhecido dos novos empreendimentos imobiliários de alto padrão é o One Hyde Park, edifício de US$ 1,7 bilhão em Knightsbridge. Um dos moradores, o ucraniano Rinat Akhmetov, pagou US$ 204 milhões por dois apartamentos de cobertura que então integrou, gastando US$ 90 milhões adicionais.
De acordo com o “Sunday Times”, apenas 17 dos 76 apartamentos do empreendimento, vendidos pelo valor total de US$ 4 bilhões, estão registrados como residências principais.
Uma americana que viveu por 20 anos num apartamento de milhões de dólares em Belgrave Place disse que o silêncio às vezes é opressivo. “Fiquei animada quando uma família russa se mudou para lá”, contou. Os novos vizinhos a convidaram para sua festa de Natal, mas essa foi a última vez em que ela os viu. “Acho que eles passam a maior parte do tempo em Palm Beach.”
Os donos dos apartamentos no edifício One Hyde Park raramente são vistos.

Fonte: 15/04/2013 – Sarah Lyall – do “The New York Times”, em Londres.

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