quinta-feira, 21 de março de 2013

CRÔNICA Cartas de Paris: O pesadelo parisiense da casa própria



Ana Carolina Peliz
Nesta quarta-feira, jantei com amigos franceses. No cardápio, as conversas começaram pelos temas de sempre, crianças, trabalho, férias e logo caíram na pergunta inevitável “acharam o apartamento para comprar?”. Sim, a compra de um “chez soi” também é a preocupação número um dos franceses e faz parte dos assuntos preferidos da mesa do jantar, ainda que seja um pouco indigesto.
Tentarei, em poucas palavras, traçar o quadro do mercado imobiliário em Paris. De maneira geral, na França, os terrenos para construir são raríssimos, e na capital são inexistentes. Os apartamentos disponíveis também são poucos, o que faz o preço aumentar de maneira impressionante. O preço médio do metro quadrado em Paris é de 8.250 euros, isso quer dizer que um apartamento de 40 m2, mal dividido e precisando de reforma, pode custar mais de um milhão de reais. Em dez anos, o preço dos imóveis em Paris triplicou, isso faz deles um investimento mais seguro que o ouro.
Mas voltemos a meus amigos da noite passada, Sylvie e Christophe, que estão procurando uma casa. Com três filhos, eles desistiram de Paris e agora procuram na periferia próxima. A questão é sempre a mesma, será que vale a pena pagar uma fortuna por uma imóvel que nem se aproxima das expectativas? Após meses de busca, eles encontraram uma casa com “potencial”, mas o veredito do arquiteto foi mortal: derrubem e construam outra no lugar.
Casais como meus amigos são obrigados a sair de Paris para terem mais espaço, mas também se afastam das vantagens da cidade, a principal delas é o transporte público. Conseguir um empréstimo bancário em tempos de crise é outro drama, mas isso e o aluguel ficam reservados para outro capítulo da novela, pois não caberiam neste post.


Stéphane Plaza, apresentador.

A questão do imóvel é tão importante na França que entre os programas com maior audiência da televisão, dois são relacionados diretamente com o mercado imobiliário. Eles são apresentados pela mesma pessoa, Stéphane Plaza, que se transformou no chuchu dos franceses. Com um senso de humor sutil e os dentes devidamente clareados, como se espera de um corretor imobiliário, Plaza ajuda as pessoas a encontrar casas e apartamentos ou vender imóveis que não encontram comprador.
O curioso da história é que o próprio apresentador anda há meses buscando um local no Marais, um dos bairros mais caros de Paris, para instalar sua corretora e até agora não encontrou. Prova de que as coisas não andam fáceis nem para os profissionais.

Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. 

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