16/03/2013
Rapphael Curvo (1)
Ano após ano eu fico assistindo a mais elucubrações e masturbações mentais de vários governos sobre os problemas educacionais no Brasil. Nas minhas aulas da PUC-RIO percebi com intensa claridade a diferença entre os professores dessa universidade com os de outras. A capacidade de transmissão de conhecimento não estava apenas na razão de serem eles provenientes, em sua quase totalidade, de famílias abastadas e que, por essa razão, melhores preparados culturalmente. Fica a ideia de que o dinheiro favorecia a qualidade do educador, o que não é verdade. Podiam eles até ter maior facilidade de evolução na técnica de ensinar em razão de sentirem-se mais desenvoltos, dado o meio social em que viviam e que não os aprisionavam emocionalmente.
A capacidade de ensinar vinha, na verdade, da excelente formação educacional superior recebida no exterior e que a PUC-RIO incentivava a todos que lá se habilitavam ao quadro de professores. O preparo desses mestres dava a universidade católica o ensino de ponta que até hoje pratica. Nada mudou na meta da PUC-RIO em relação ao preparo de seus mestres. Bem sabe que a sua sobrevivência como irradiadora de educação de qualidade depende da capacidade de seus professores e também, da criatividade e inovação destes para se manter como uma universidade transformadora do ensino superior.
Infelizmente são poucas, para não dizer raras, as Instituições de ensino superior que qualificam a educação. Dentre estas está a Faculdades Campinas – FACAMP, que tem como sua razão social Promoção do Ensino de Qualidade, e dessa forma diz tudo do seu objetivo na educação brasileira. São alunos formados com alto padrão de conhecimento e que estão a dominar os estágios, quadros de trainee das empresas e de grande projeção no mercado de trabalho. Grande parte dos formandos da FACAMP tem como destino a pós em Harvard, Cambridge e outras de ponta da educação mundial. Para fazer essa educação transformadora é preciso que os mantenedores das universidades e seu corpo diretivo, tenham em mente o desejo de realizar, de construir, antes de visar lucros políticos e financeiros. Tais resultados devem ser consequências e não objetivos.
O “Estadão” em seu editorial “Educação Reprovada” traz resultados de avaliação do movimento Todos pela Educação que tem por meta, propor objetivos para elevar a qualidade do ensino no País. O resultado obtido por essa avaliação é desolador, principalmente no ensino médio o qual deveria ser o preparador dos estudantes ao ensino superior. O resultado informa que apenas um (01) em cada dez (10) alunos teve um desempenho adequado em matemática, ou seja, apenas 10% dos alunos brasileiros estão razoavelmente preparados nessa matéria. Considerado apenas ensino público, apenas 5% estão com conhecimento satisfatório nessa área. Em matéria de Português, 26% atingiram conhecimento aceitável.
Para esses resultados, não há outra fonte possível que a da qualidade de aprendizado do educador nos atuais cursos de Pedagogia e outros relativos tais como física, química e por aí vai. O problema vem desde a origem da educação na vida da criança. A educação infantil não pode ser encarada apenas como uma creche. Ela tem que ser motivadora de curiosidade, de conceitos matemáticos, artísticos, de interesse pelo novo, de desejo de conhecer via contatos com objetos e formas, cores etc. É preciso estimular o intelecto desde a infância para que o desenvolvimento do aprendizado já no ensino fundamental seja produtivo. Os professores e orientadores dessa fase de vida do estudante tem que estar preparados para provocar esse crescimento mental e cultural de seus alunos. O reflexo de uma boa educação atinge comportamentos em todos os níveis que vão desde a relação social até a sua compreensão de princípios do campo ético, moral, de respeito e de convivência.
Não adianta programas com metas a perder de vista, planos de aperfeiçoamento profissional, bilhões em investimentos em partes físicas, melhoria com fornecimento de computadores e por aí vai, se os educadores entram e saem das universidades ao som das ferraduras. Pelo resultado, como apurou o movimento Todos pela Educação, os nossos jovens vão estar com conhecimentos limitados e com baixa capacidade de informação profissional. Este quadro resulta em péssima prestação de serviços na economia formal, ou seja, empregos de baixa qualidade. Estarão confinados ao território da ignorância, excluídos da oportunidade de maior crescimento técnico. O cerne da questão está no ensino das Universidades com maior foco no curso de Pedagogia, a ciência do ensino. Repito aos governantes: é a pedagogia, estúpido.
(1) Jornalista, advogado pela PUC-RIO e pós graduado pela Cândido Mendes-RJ
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