segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

CRÔNICA Cartas de Londres: a capital do país da jogatina intelectual



Quando se fala nas casas de apostas do Reino Unido fica parecendo que elas são uma cultura em si mesmas.
Afinal, ali as possibilidades são centenas: podem valer dinheiro os resultados de futebol do mundo todo, as corridas de cavalo e até um murro que um deputado com fama de violento der em algum eleitor (sim, isso aconteceu). Mas a verdade é que os britânicos são tarados por qualquer tipo de jogo. Se envolver conhecimento, melhor ainda.
Em seis meses fui a cinco festas de britânicos. Em todas as dúvidas eram três: o que vamos beber, comer e jogar. Nos primeiros itens o acordo sempre foi rápido: porcarias para petiscar e cerveja ou vinho para bebericar. A disputa em todas foi decidir qual seria a diversão da noite. Cada um queria jogar o que conhecia melhor.
Um dos preferidos é um jogo de tabuleiro chamado Articulate. Para mestrandos em jornalismo na casa dos 25 anos de idade (eu sou o mais velho), muitos sem experiência, mostrar conhecimento geral nessas partidas só não é mais importante do que fazê-lo em sala de aula. (Foi também nessa brincadeira que vi um estrangeiro bem-educado chutar que a capital do Brasil é Buenos Aires. Perdoei.)
Sábado em muitos bares é dia dos famosos “quiz”. Amigos se juntam para disputar um prêmio que muitas vezes acaba no próprio pub, em pedidos infinitos de cerveja.
Os que não gostam dessa modalidade podem jogar em um caça-níqueis de conhecimentos gerais, sob um tema do Banco Imobiliário local. Os mais espertos e resistentes chegam a tirar umas 10 libras depois de uma boa hora respondendo (o equivalente a R$ 35 ou três pints de cerveja barata).
Os pais dos meus colegas parecem ter superado a busca pelo conhecimento: jogam em cassinos, todos legalizados. Nas noites de domingo eles fazem um assado -- é assim que chamam churrasco por aqui -- e recebem amigos para jogar pôquer, sempre apostando valores baixos.
Também há quem goste de tentar ganhar dinheiro na versão online de todas essas modalidades. “A graça é beber juntos, rir das bobagens que desconhecemos”, me conta um colega.
Numa frase ele resumiu o que mais respeito nos londrinos: a vontade de saberem mais e a capacidade de rirem de si mesmos.

Maurício Savarese é mestrando em Jornalismo Interativo pela City University London. Foi repórter da agência Reuters e do site UOL. Freelancer da revista britânica FourFourTwo e autor do blog A Brazilian Operating in This Area  Twitter: msavarese. Email: savarese.mauricio@gmail.com. Maurício estará conosco todas as segundas-feiras.

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