domingo, 13 de janeiro de 2013

Caso Adrielly: ponto seria fraudado há cinco anos



  • Esse seria o tempo que médico não dava plantão, e colega o substituía


Depoimento na Delegacia Fazendária dos médicos do caso Adrielly, do Salgado Filho
Foto: Vera Araújo / O Globo
Depoimento na Delegacia Fazendária dos médicos do caso Adrielly, do Salgado Filho Vera Araújo / O Globo
RIO — Ao investigar as faltas do neurocirurgião Adão Orlando Crespo Gonçalves nos plantões do Hospital Municipal Salgado Filho, a Delegacia Fazendária (Delfaz) descobriu um esquema fraudulento na unidade, na qual o médico não comparecia ao serviço e mandava um substituto no seu lugar. Segundo a delegada da especializada, Izabela Rodrigues Santoni, o depoimento da chefe de emergência do hospital, Valéria Reis, revelou que o neurocirurgião faltava aos plantões há cinco anos e ainda assinava a presença na folha de ponto normalmente.
— Apuramos que Adão Gonçalves não trabalhava, mas era substituído frequentemente por outro médico. Os chefes do plantão e da emergência tinham a obrigação de saber destas irregularidades e lançar as faltas, mas não foi o que aconteceu. Trata-se de uma esquema e percebe-se que nenhuma providência foi tomada pelas chefias. Ninguém pode ser substituído em todos os plantões. Todos serão responsabilizados pela omissão — prometeu a delegada.
Na sexta-feira, Izabela ouviu quatro médicos. Todos afirmaram que nunca viram o neurocirurgião trabalhar nos plantões. A chefe de emergência disse, em depoimento, que "não tem como o chefe da neurocirurgia (José Renato Ludolf Paixão) não ter ciência destes fatos", pois tudo é relatado no livro de ocorrências do plantão. Segundo ela, no dia 25 de dezembro, por meio de uma mensagem de texto enviada às 10h21min, o chefe de equipe do plantão de Natal, Ênio Lopes, determinou que ela lançasse as faltas de Adão Gonçalves e do radiologista Celso Monteiro, que também não teria comparecido, apesar de escalado. Em seu depoimento, Valéria Reis explicou ainda que as anotações do livro, principalmente as faltas, eram levadas aos superiores hierárquicos que tinham como abonar e tornar sem efeito com amparo legal.
De acordo com os depoimentos à delegada Izabela, Adão Gonçalves era substituído pelo neurocirurgião Francisco Doutel de Andrade, que teria desistido de cobrir as faltas do colega porque teria que assumir o plantão sozinho em decorrência da aposentadoria de outro médico, o neurocirurgião Carlos Augusto Borges,que dividia o serviço com ele. O fato ocorreu justamente no mês de setembro do ano passado, quando os problemas no plantão se tornaram evidentes. Ao Globo, Adão Gonçalves confirmou que usava um substituto, " prática essa comum entre os médicos do Salgado Filho, há cerca de dois anos". Ele disse ainda que seu caso era de pleno conhecimento do chefe do serviço de neurocirurgia, José Renato Paixão, e dos chefes de equipe de segunda à noite e de terça de dia, quando estava escalado para dar plantão. Por último, Adão Gonçalves explicou que era por isso que não lançavam a falta no ponto, "porque havia substituto e eram coniventes com isso".

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