Em 2005, o então primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, odiado como o símbolo do que a “direita israelense” teria produzido de pior, decidiu sair unilateralmente de Gaza. Comprou briga com alguns colonos israelenses e os retirou da região, à força. Sharon enfrentou a resistência de seu então partido, o Likud, hoje no poder, e contou com apoio dos trabalhistas. Pouco depois fundou o Kadima, um partido que pretendia centrista, entre, então, o Likud e o Trabalhista (mais à esquerda).
Pois bem. Israel saiu, e o resto é conhecido. O Hamas deu um golpe em Gaza, expulsou o Fatah à bala e transformou a região em base de lançamento de mísseis contra Israel, como aquele que adornou, num simbolismo impressionante, a manifestação do grupo terrorista no sábado, que reuniu, segundo o movimento, 500 mil pessoas.
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, reagiu neste domingo ao discurso feito por Khaled Meshaal, líder do Hamas (ver post da manhã): “Fomos expostos à verdadeira face de nossos inimigos. Eles não têm a intenção de se comprometer conosco. Eles querem destruir o nosso país”. Ele deixou claro que não cometerá o erro de sair unilateralmente da Cisjordânia e afirmou sobre a pressão internacional que sofre hoje o país: “Estou sempre consternado com as desilusões dos outros, que estão preparados para seguir nesse processo e chamá-lo de paz”.
Chamo a atenção de vocês para o silêncio internacional que se seguiu à declaração de guerra do Hamas – incluindo o anúncio de que o grupo pretende sequestrar novos soldados israelenses para trocar por terroristas presos. E agora? O mais impressionante é que o blog recebeu alguns comentários culpando, pasmem!, o primeiro-ministro israelense pelas declarações de Meshaal. Um deles sustenta: “Tudo o que Netanyahu queria era um discurso como aquele; agora ele pode fazer o que bem entende e culpar os palestinos”. Epa! Parece lógica, mas é outra coisa. O israelense agora tem de responder por aquilo que diz o palestino? Tenham paciência!
A manifestação do Hamas é consequência direta da decisão absurda da Assembleia Geral das Nações Unidas, que elevou a Autoridade Palestina à condição de “estado”, ainda que “observador”. Como é o Hamas a força que lidera a resistência armada a Israel, é evidente que o grupo considera que sua luta tem sido bem-sucedida até aqui. Pior: Mohamed Abbas pediu a mudança de status da Autoridade Palestina, inicialmente contra a vontade de seus inimigos internos, que eram contrários à iniciativa. Quando estes perceberam que havia chances de sucesso, não hesitaram e se colocaram como os principais beneficiários do processo.
Quem não quer a paz? Quem pode ser a favor da guerra? A resposta a essas perguntas vai ao cerne da questão. Como estado organizado, é evidente que o fim das hostilidades interessa a Israel, que tem outras coisas de que cuidar: saúde, educação, saneamento básico, varrição de rua, arrecadação de impostos etc. – essas coisas de que costumam se ocupar os governos. A guerra permanente interessa a quem só existe por causa da guerra permanente: ao Hamas, que não tem, como é sabido, nenhuma daquelas outras preocupações. Afinal, seu horizonte não é deste mundo.
Aqueles que defendem com tanta energia, mundo afora e no Brasil também, que Israel negocie com o Hamas – negociar o quê??? – poderiam tentar dar uma interpretação alternativa ao que disse Meshaal. Eu sempre fico encantado quando tentam provar que o diabo não é tão feio como se pinta, a despeito de sua cara, de suas intenções, de seu programa. Foi Meshaal a reunir 500 mil pessoas, sob os auspícios de um míssil, para anunciar que o destino de Israel é um só: o fim.
O que querem que Israel negocie com o grupo? As condições de seu próprio extermínio? Acho que isso não acontecerá.
PS – Na era da estupidez militante, cumpre observar: é claro que sou favorável à criação do estado palestino! Por que não seria? Se critico a ONU, é porque não faz sentido uma decisão como aquela fora de uma negociação entre palestinos e israelenses. O entendimento bilateral vem primeiro. Sem ele, o que se faz, argumentei então, é incentivar o confronto. Eu estava obviamente certo, como se vê: dadas as ações posteriores ao “reconhecimento”, os palestinos estão agora mais longe de um estado de verdade do que antes. Verdade ou mentira? DE RESTO, É FÁCIL PROPOR A PAZ FAZENDO A GUERRA. QUERO VER É PROPOR A PAZ FAZENDO A PAZ.
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