quarta-feira, 27 de junho de 2012

Refletindo o Golpe de Estado no Paraguai, por Bruno Lima Rocha



Como é sabido, o governo eleito do Paraguai, tendo como presidente o ex-bispo Fernando Lugo, foi derrubado pela via de um processo célere de impeachment. Poderíamos analisar o tema através de um ângulo do direito constitucional, da meta de perseguir estabilidade política em democracias frágeis ou mesmo pela via das relações no Continente.
Todos estes caminhos são válidos para um debate em profundidade, mas ainda assim limitariam a abordagem. Lugo não caiu apenas por uma série de fatores complexos, mas principalmente por arriscar-se a modificar uma parcela da ordem social sem ter um dispositivo popular de pronta resposta.
Parece uma sina latino-americana. As esquerdas passam a crer na democracia liberal como se fora um pensamento mágico. De uma ora para outra, as oligarquias de sempre (como as máfias do Partido Colorado), exércitos reacionários e corruptos (o paraguaio), interesses de população exportada (a exemplo dos brasilguaios) e o Departamento de Estado dos EUA simplesmente deixariam de operar ou o fariam de maneira tênue, sem correr riscos de rompimento da ordem.
Desde o início do ano de 1973, como é sabido, o serviço de inteligência cubana vinha alertando o governo do socialista Salvador Allende no Chile, da necessidade urgente de organizar um mecanismo de pronta-resposta para um golpe que se avizinhava. Allende morreu no Palácio de La Moneda, sofrendo bombardeio e ataques múltiplos, acompanhado apenas de parte da guarda técnica.
Agora foi pior. Lugo caiu com o rosto na televisão, diante de um Senado impávido e traído pelo vice-presidente. A grande solução foi juntar-se em gabinete paralelo e acreditar que a pressão da Unasur e demais organismos latino-americanos poderão exercer suficiente peso contra o governo recém empossado.
As únicas forças sociais mobilizáveis, o conjunto de organizações camponesas, sem terra e de povos originários (termo reivindicado pelos movimentos indígenas), além de não serem convocadas para defender o governo legítimo derrubado sem o direito de ampla defesa, serviram de bode expiatório para a celeuma político-midiática pró-Golpe.
Serve como aprendizado político. Nenhum governo latino-americano, ainda que eleito, modificará impunemente a ordem social, mesmo que de forma parcial.
No caso, Lugo ousou dar vazão às demandas históricas de organizações camponesas. Teve como resposta um Golpe de Estado sem quartelada, espetacularizado, rápido, eficiente e com rosto civil. Já a ação rumo ao contra-Golpe, ainda está devendo.

Bruno Lima Rocha é cientista político 

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