07/12/2012
Hélio GarciaTalvez um dia conte aqui a versão de meu avô prá primeira melhor. Sou um homem privilegiado, não me canso de falar isso. Nascido e criado em cidade do interior de MG (onde existe realmente o TREM), beira-rio (o tal aos fundos de minha casa), canoa, ruas de pé-de-moleque à época, bois soltos nas ruas sendo levados ao matadouro (farra), fazendas, sitios e chácaras de avós, tios e primos à vontade pros fins de semana e férias escolares, cachoeiras, riachos, pescarias, caçadas (ainda era permitido), brincadeiras nas ruas e praças com aquele cheirinho da Rainha (Dama) da Noite. Festinhas, bailinhos, bailes, responsabilidade afinal, Faculdade, Trabalho, Casamento, filhos, netos, aposentado. Tenho que dar razão ao meu avô materno: BCBD meu neto, Banho, Comer, Beber e Dormir. Um bom banho, comida da roça, da vovó, da mamãe, dos restaurantes mais sofisticados, de um pé de fruta; da água aos bons vinhos, licores, cervejas, às camas com colchões de palha, capim até os mais ornamentados e macios dos hotéis pela vida. Por que sou privilegiado…..? Porque nunca temos as cinco melhores coisas da vida juntas, ao mesmo tempo, concomitantemente agrupadas. Estou próximo a desfrutar delas em altíssimo nível e estilo, convidado formalmente que fui pelo meu amigo ultramarino o Bispo de Cretania, Don Giuseppe Perleto Roccaverano para uma visita por tempo indeterminado à sua residência de campo, nas Terras Altas. Tendo adquirido uma aeronave de fabricação brasileira, capaz de atravessar o Oceano Atlântico (sem escalas), avisou-me hoje, que a Empresa Brasileira mandará um pequeno jato executivo para meu traslado um dia antes do embarque, na próxima semana. Além das fotografias já anexadas aos e-mails recebidos, brindou-me com mais algumas, notadamente a da sala de banhos do Castelo-Casa de Campo. Vieram outras dos aposentos a mim reservados, mas fica prá outro papo. E O BLOG CONTINUA SENDO CULTURA.
Até o século de Luiz XIV os banhos eram tomados numa única tina, enorme, cheia de água quente. O chefe da família tinha o privilégio do primeiro banho na água limpa. Depois, sem trocar a água, vinham os outros homens da casa, por ordem de idade, as mulheres, também por idade e, por fim, as crianças. Os bebês eram os últimos a tomar banho. Quando chegava a vez deles, a água da tina já estava tão suja que era possível “perder” um bebê lá dentro. É por isso que existe a expressão em inglês “don’t throw the baby out with the bath water”, ou seja, literalmente, “não jogue fora o bebê junto com a água do banho”, que hoje usamos para os mais apressadinhos. Limpo como na Idade Média, época que cultuou a higiene. A higiene não é uma descoberta dos tempos modernos, mas “uma arte que o século de Luiz XIV menosprezou e que a Idade Média cultuou com amor”, escreveu a historiadora Monique Closson, autora de numerosos livros sobre a criança, a mulher e a saúde no período medieval. da época”. O zelo pela higiene veio abaixo no século XVI, com a Renascença e o protestantismo. Milhares de manuscritos, diz Closson, ilustram o costume medieval. Bartolomeu o inglês, Vicente de Beauvais, Aldobrandino de Siena, no século XIII, com seus tratados de medicina e de educação “instalaram uma verdadeira obsessão pela limpeza das crianças”. Eles descrevem todos os pormenores do banho do bebê: três vezes ao dia, as horas, temperatura da água, perto da lareira para não pegar resfriado, etc..
As famosas Chroniques de Froissart, em 1382, descrevem a bacia no mobiliário do conde de Flandes, de ouro e prata. As dos burgueses eram de metais menos nobres e as camponesas em madeira. A Idade Média atribuía valor curativo ao banho, como ensinava Bartolomeu o Inglês no Livro sobre as propriedades das coisas. Na idade adulta os banhos eram quotidianos. Os centros urbanos tinham banhos públicos quentes copiados da antiguidade romana. Mas era mais fácil tomar banho quente todo dia em casa. Na época carolíngia os palácios rivalizavam em salas de banho com os monastérios, que muitas vezes tinham ambulatórios para doentes e funcionavam como hospitais. Em Paris, em 1292, havia 27 banhos públicos inscritos. São Luis IX os regulamentou em 1268. Nos séculos XIV e XV, os banhos públicos tiveram um verdadeiro apogeu. Bruxelas, Bruges, Baden, Dijon, Digne, Rouen, Strasbourgo, Chartres… grandes ou pequenas as cidades os acolhiam em quantidade. Eram vigiados moral e praticamente pelo clero que cuidava da saúde pública. Os hospitais mantidos pelas ordens religiosas, eram exímios e davam o tom na matéria. Regulamentos, preços, condições, etc., tudo isso ficou registrado em abundantes documentos, diz Closson. Dentifrícios, desodorantes, xampus, sabonetes, etc., tirados de essências naturais, são elencados nos tratados conhecidos comoervolários feitos nas abadias. Historiadores como J. Garnier descreveram com luxo de detalhes os altamente higienizados costumes medievais. As estações termais também eram largamente apreciadas. Flamenca, romance do século XIII faz o elogio da estação termal de Bourbon-l’Archambault. Imperadores, príncipes, ricos-homens os freqüentavam na Alemanha, Itália, Países Baixos, etc. A era do ensebamento começou com o fim da Idade Média e durou até o século XX, conclui Monique Closson. Ao menos até que os movimentos hippies, ecologistas, neo-tribais, etc. voltaram a pôr na moda andar sujo , sem barbear, vestido com blue-jeans e outras peças que estão ou fingem estar em farrapos ou com manchas, que vemos todos os dias na rua, nos transportes, aulas e locais de festa!
Banhos na Idade Média – Romanos e Árabes haviam trazido para a península práticas que, em Portugal, iriam perdurar mesmo na Idade Média. Banhar o corpo, porém, não implicava então um estrito conceito de limpeza. Na Grécia, o banho era uma extensão necessária da prática de ginástica: um banho revigorante, frio e breve. Em Roma e no Islão estava implicita a ideia de repouso e de convívio: uma prática social, um ritual simbólico. O banho comunal na Idade Média e o banho Turco, nas numerosas formas que assumiu na Europa, tinham fins semelhantes. A isso se refere Georges Vigarello em “O Limpo e o Sujo”: «Em setembro de 1462, o duque Philippe le Bon ofereceu um jantar aos embaixadores do rico duque da Baviera e do conde de Würtenberg e mandou servir cinco pratos de carne para festejar nos banhos». A ideologia cristã, no entanto, viria a instaurar preconceitos e a impor uma outra moral e consequentes novos costumes. Não que a igreja não se ativesse à limpeza dos corpos. Mais temia, contudo, pela sujidade das almas: os hábitos promiscuos eram uma porta aberta ao pecado. Havia assim que evitar os banhos públicos, locais «propícios à devassidão e ao amolecimento dos costumes» (“A Sociedade Medieval Portuguesa” de A.H. de Oliveira Marques).
As famosas Chroniques de Froissart, em 1382, descrevem a bacia no mobiliário do conde de Flandes, de ouro e prata. As dos burgueses eram de metais menos nobres e as camponesas em madeira. A Idade Média atribuía valor curativo ao banho, como ensinava Bartolomeu o Inglês no Livro sobre as propriedades das coisas. Na idade adulta os banhos eram quotidianos. Os centros urbanos tinham banhos públicos quentes copiados da antiguidade romana. Mas era mais fácil tomar banho quente todo dia em casa. Na época carolíngia os palácios rivalizavam em salas de banho com os monastérios, que muitas vezes tinham ambulatórios para doentes e funcionavam como hospitais. Em Paris, em 1292, havia 27 banhos públicos inscritos. São Luis IX os regulamentou em 1268. Nos séculos XIV e XV, os banhos públicos tiveram um verdadeiro apogeu. Bruxelas, Bruges, Baden, Dijon, Digne, Rouen, Strasbourgo, Chartres… grandes ou pequenas as cidades os acolhiam em quantidade. Eram vigiados moral e praticamente pelo clero que cuidava da saúde pública. Os hospitais mantidos pelas ordens religiosas, eram exímios e davam o tom na matéria. Regulamentos, preços, condições, etc., tudo isso ficou registrado em abundantes documentos, diz Closson. Dentifrícios, desodorantes, xampus, sabonetes, etc., tirados de essências naturais, são elencados nos tratados conhecidos comoervolários feitos nas abadias. Historiadores como J. Garnier descreveram com luxo de detalhes os altamente higienizados costumes medievais. As estações termais também eram largamente apreciadas. Flamenca, romance do século XIII faz o elogio da estação termal de Bourbon-l’Archambault. Imperadores, príncipes, ricos-homens os freqüentavam na Alemanha, Itália, Países Baixos, etc. A era do ensebamento começou com o fim da Idade Média e durou até o século XX, conclui Monique Closson. Ao menos até que os movimentos hippies, ecologistas, neo-tribais, etc. voltaram a pôr na moda andar sujo , sem barbear, vestido com blue-jeans e outras peças que estão ou fingem estar em farrapos ou com manchas, que vemos todos os dias na rua, nos transportes, aulas e locais de festa!
Banhos na Idade Média – Romanos e Árabes haviam trazido para a península práticas que, em Portugal, iriam perdurar mesmo na Idade Média. Banhar o corpo, porém, não implicava então um estrito conceito de limpeza. Na Grécia, o banho era uma extensão necessária da prática de ginástica: um banho revigorante, frio e breve. Em Roma e no Islão estava implicita a ideia de repouso e de convívio: uma prática social, um ritual simbólico. O banho comunal na Idade Média e o banho Turco, nas numerosas formas que assumiu na Europa, tinham fins semelhantes. A isso se refere Georges Vigarello em “O Limpo e o Sujo”: «Em setembro de 1462, o duque Philippe le Bon ofereceu um jantar aos embaixadores do rico duque da Baviera e do conde de Würtenberg e mandou servir cinco pratos de carne para festejar nos banhos». A ideologia cristã, no entanto, viria a instaurar preconceitos e a impor uma outra moral e consequentes novos costumes. Não que a igreja não se ativesse à limpeza dos corpos. Mais temia, contudo, pela sujidade das almas: os hábitos promiscuos eram uma porta aberta ao pecado. Havia assim que evitar os banhos públicos, locais «propícios à devassidão e ao amolecimento dos costumes» (“A Sociedade Medieval Portuguesa” de A.H. de Oliveira Marques).
Nenhum comentário:
Postar um comentário