sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

GERAL As senhoras do Astoria, por Maria Helena RR de Sousa


Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - 
7.12.2012
 | 16h09m

É incrível, não é Maria Helena, que as pessoas não sintam que a filosofia política em Niemeyer tem tanta importância ante seu legado arquitetônico quanto o paletó puído de Beethoven teve na 9ª Sinfonia. José do Carmo Rodrigues (Obra-Prima de ontem)

Escrevo artigos para o Blog do Noblat desde agosto de 2005, a convite de seu titular. E antes disso já era frequentadora assídua, a ler artigos, crônicas, cartas, matérias, poesia, enfim, tudo que aqui era publicado. E a comentar, o que era extremamente prazeroso. Pleno estouro do mensalão, assunto era o que não faltava. Ou discussões.
Havia radicais de um lado e do outro. Às vezes isso parecia arquibancada do Maracanã em dia de Flamengo x Vasco. Ninguém diria que eram todos cidadãos do mesmo país que, em seu pleno juízo, deveriam estar unidos contra os malfeitores. Palavra ainda a ser criada...
Parecíamos mais Alemanha e França disputando a Alsácia. Chegávamos ao ponto do ridículo.
Mas os motivos eram ao menos nobres, quer dizer, os Lulas juravam, como juram até hoje de pés juntos, que Luiz Inácio da Silva tirara o Brasil da fome e da miséria, por isso merecia ser adorado, fizesse o que fizesse. E como ele ainda por cima não fazia nada errado...
O radicalismo continua, mas sinto certo artificialismo na galera, até porque os da oposição perderam a garra, já que não têm nem programa nem nomes a quem defender.
Talvez seja por isso que, adrenalina acumulada e maus bofes em níveis estratosféricos, a homenagem a Oscar Niemeyer tenha sido tisnada por palavras e pensamentos absolutamente deploráveis! Li aqui coisas do arco da velha, tipo:
que ele foi um benemérito que construía de graça para países comunistas; que aqui só mamava do governo; que foi um traidor do Brasil pois amava Cuba mais do que ao nosso país; que as curvas de suas obras não tinham nada a ver com o corpo da mulher, mas com as cúpulas do Kremlin!
Lembrei-me de uma cena inesquecível presenciada por mim há mais de 50 anos. Aqui no Rio, fronteira Ipanema/Leblon, havia um bom cinema, o Astoria. Que naquela semana exibia o filme russo Quando voam as cegonhas.
Filme romântico, uma linda história que me fez chorar baldes. Parênteses para explicar que antigamente ao fim da sessão as luzes se acendiam, a grande maioria dos espectadores saía e a sessão seguinte levava um bom tempinho para ser iniciada.
Eu saia com minha amiga quando ouvimos uma senhora dizer para a outra: Mas que filme chato! E a outra: Pudera! Russo não entende nada de amor!
Voltei-me para a dupla e ia recomendar-lhes que entrassem na Casa Reis ao lado do cinema e comprassem Anna Karenina, mas ao olhar para o semblante das duas, vi logo que seria inútil. De amor só entediam os musicais americanos ou as novelas mexicanas, claro.
Zé do Carmo, tenho a impressão que aquelas senhoras do Astoria hoje diriam: E Beethoven lá entendia de música, surdo e mal ajambrado?

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