terça-feira, 20 de novembro de 2012

Uma rua para Daniel Dantas, por Carlos Tautz



A notícia de que a Ordem Terceira da Providência vendeu ao Banco Opportunity (leia-se, o controverso banqueiro fugidio Daniel Dantas) por quase R$ 55 milhões os 42 casarões da Rua da Carioca – como se diz na cidade, a rua mais carioca do Rio – mostra a que níveis tem chegado a acumulação primária dos maiores conglomerados econômicos sediados no Brasil.
Sem esclarecer para que se servirá do corredor de casas tombadas bem no meio do Centro, o Opportunity vai assim seguindo estratégia semelhante à de Eike Batista, segundo a qual o estardalhaço é a melhor maneira de se manter nas penumbras da informação pública (há pouco, o Estado de São Paulo descobriu que a maior parte das empresas de Eike em verdade sedia-se nos EUA).
No caso do Opportunity, uma corporação que atua simultaneamente em dois dos “estados da arte” do capitalismo – finanças e comunicações -, desafia a lógica justamente essa mudança de estratégia.
Antes, a corporação fazia do sigilo, e das reduzidas aparições em público de Dantas, seu modo de operar. Com a compra relâmpago da Rua da Carioca, onde está localizado o centenário Bar Luiz e outras casas que encerram o conceito de carioquice, o Opportunity muda a estratégia e mostra que buscará se legitimar politicamente de uma forma simpática: “adotando” a rua que resume o espírito do carioca.
Quais serão os objetivos finais de Dantas? Para que comprar uma briga pública, e angariar para si e seu grupo a antipatia social? Quais são seus novos limites? Ele vai se interessar por mais algum ícone carioca? Quem sabe o Pão de Açúcar ou o Cristo Redentor?
A ousadia dantesca gerou as reações formalmente indignadas do reprefeito Paes e do desaparecido governador Cabral. Ambos só faltaram gritar “no pasarán!”.
É claro, numa bravata barata. Sabe-se muito bem que ambos cultivam proximidades com megaempresários interessados em aproveitarem-se ao máximo da cidade para os negócios, e não para a cidadania, que Paes e seu ex-líder Cabral (o prefeito se afastou da péssima imagem que o governador desancou com a sua farra dos guardanapos em Paris) implementam a qualquer custo no Rio de Janeiro.
Ambos garantem que, agora, colocarão seus respectivos serviços de proteção ao patrimônio para trabalhar e já reivindicam uma suposta preferência de compra que o Estado teria na aquisição dos casarões.
Mas, não conseguem adiantar quais serão as táticas que empreenderão para manter públicos monumentos e valores culturais de uma cidade que vai concentrando a propriedade do que ela tem de melhor.

Carlos Tautz é jornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e Controle Cidadão de Governos e Empresas (www.maisdemocracia.org.br).

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