sexta-feira, 23 de novembro de 2012

POEMA DA NOITE - Ao mesmo tempo - Vitor Paiva



Ao mesmo tempo 
que declamo certezas 
as mais belas 
aquelas que, de tão plenas, 
no fundo passamos todo o tempo a desafiá-las 
e que, por não haver respostas, 
seguem, dentre incertezas, 
se oferecendo para serem desvendadas
Sou também 
o eterno será? 
que nem dito é 
Que só se sente 
Que derruba tudo com um gasto dos olhos 
E que também é belo 
(e que há de ser belo) 
mas que às vezes se confunde 
(se é confundido) 
com a solidão
Uma solidão adquirida 
(como que escolhida) 
e que, por isso, arde mais 
dói ainda mais
Mas não é
Um pouco como o sim do amor 
dos afetos 
como se o sorriso pudesse sempre mais do que o grito 
em todos os sentidos 
mesmo quando só o grito é possível, e feito 
seria melhor com um sorriso 
só isso
Não adianta querer dar jeito 
nesse incessante desrespeito que tenho 
pelo que nos confina 
à doutrina da felicidade futura 
ne fingir que nada merece alcançar 
o ponto final na caligrafia 
(até o arremate do estilo) 
Que não há poesia que resista ao esforço da voz 
já que o tempo, veloz, virá para nos embaralhar de novo 
ao início pálido
Tudo é mentira
Não sei o que falo
Só sei que amo 
que nunca encerro a pergunta 
que me divido 
e ao mesmo tempo 
me calo

Vitor Paiva (3 de março de 1983) - Além de poeta, é músico, escritor e produtor cultural. Oriundo do CEP 20000 (Centro de Experimentação Poética) é fundador e baixista da banda Os Outros. Publicou os livros de poemas 'Tudo que Não é Cavalo' em 2004, e 'Boca Aberta' em 2007. Contribuiu com crônicas e artigos para diversos meios de comunicação, dentre eles Jornal Brasil, Pasquim 21 e a Revista da MTV.

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