quinta-feira, 22 de novembro de 2012

OBRA-PRIMA DO DIA - FOTOGRAFIA Josef Koudelka: Fotógrafo de Praga (Semana dos Fotógrafos)



Josef Koudelka (à esquerda, em 1987), nascido em Boskovice, na Moravia, em 1938, formou-se na Escola Politécnica de Praga, em engenharia aeronáutica, no ano de 1961.
Mas em 1967 decidiu-se por uma paixão mais antiga, a fotografia. (Foi o padeiro da aldeia que lhe mostrou a primeira fotografia que viu. Ficou tão entusiasmado que começou a colher morangos sempre que podia para vender ao sorveteiro e juntar dinheiro para comprar uma câmera).
Em Praga, já engenheiro, iniciou sua nova carreira fotografando os ciganos que encontrava pelas ruas e aldeias e também começou a aceitar encomendas para revistas sobre teatro, uma das mais fortes tradições da cidade.
Quando, em 21 de agosto de 1968, Praga foi invadida pelos russos – para matar a Primavera de Praga – Koudelka saiu às ruas com sua câmera e rolos de filme que comprara tempos antes de um amigo. E deu início às fotos que seriam as mais importantes de sua vida.
Naquele mesmo ano dez daquelas fotos foram contrabandeadas para Paris. Koudelka continuou sua vida. Em 1969 viajou para Londres com um grupo de teatro tcheco. Um domingo pela manhã, saindo do hotel, viu um pequeno grupo de atores lendo e comentando um exemplar da revista do Sunday Times. E para sua surpresa viu que olhavam suas fotos! As fotos que hoje são o documento mais importante de um dos mais emblemáticos acontecimentos da história do Século XX e que, na ocasião, ninguém sabia que eram de sua autoria.
Pediu para ver a revista e viu que estavam atribuídas a P.P. (Prague Photographer). “Aquilo foi para me proteger. E eu não podia dizer a ninguém que as fotos eram minhas. Foi uma sensação estranha. Mas eu temia por minha família ou que não me permitissem voltar ao meu país”.
Antes de deixar Londres, entrou em contacto com a Magnum – a agência que publicara as fotos. Já de volta a Praga, soube que o anônimo P.P. recebera a medalha de ouro do Prêmio Robert Capa, oferecido pelo Overseas Press Club.
Pouco depois, a Magnum enviou uma carta ao Ministério da Cultura tcheco informando que dera a Josef Koudelka uma bolsa para fotografar Os Ciganos que vagavam pela Europa. Funcionou e Koudelka pode sair de Praga para sua missão.
Em 1970, quando seu visto expirou, o fotógrafo não retornou e tornou-se ele mesmo um nômade como os ciganos que fotografava. Não parou mais de fotografar, de receber prêmios, de participar de exposições ou de lançar livros marcantes com suas fotos: Os CiganosCaosExílio; e muitos outros. Mas foi só em 2008 que foi lançado o livroInvasion 68: Prague, pela editora Thames & Hudson.

21/08/68, o centro de Praga ao saber que tanques soviéticos invadiram a fronteira

“Durante muito tempo ninguém estava interessado em lembrar, mas agora creio que começaram a recordar”, disse Koudelka por ocasião do lançamento do livro em Praga. “Se o livro os ajuda a lembrar, fico feliz". 


"Nós tchecos não somos como os irlandeses ou os poloneses. Muitas vezes não agimos com bravura diante das adversidades, mas naquela semana, como meu livro mostra, podemos ter muito orgulho de nosso comportamento". 


Muitas das pessoas que estão nas fotos, ou seus parentes, ao comparecer ao lançamento, se espantavam com o que viam. E disse Koudelka: “Passaram-se 40 anos. Eu não me lembrava deles nem eles de mim. Não podemos confiar em nossas lembranças, mas podemos confiar em nossas fotos”.

a dor da esperança esmigalhada

“Eu não queria publicar esse livro. Sabia que as 10 melhores fotos eram as que eu escolhera originalmente. E na verdade, ao montar o livro, não vi nenhuma que eu quisesse juntar àquelas. Por não terem, como as outras, valor universal. O importante não é quem é russo, quem é tcheco, mas sim o homem que tem a arma e o homem que não tem”. 


Josef Koudelka tem dupla nacionalidade: é francês, mas nunca deixou de ser tcheco. Viveu como um nômade durante a maior parte de sua vida adulta. Tem três filhos, de três mães diferentes e só há muito pouco tempo tem residências fixas, uma em Praga, outra em Paris.
As fotos mostradas aqui fazem parte das dez que foram parar em Paris ainda em 1968.

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