Mais de 90 policiais mortos este ano somados com centenas de civis assassinados mês a mês em São Paulo e região. De uma hora para outra, o fantasma do PCC, Primeiro Comando da Capital ou Partido do Crime, volta à tona.
Seis anos atrás ocorreu o mesmo fenômeno, inaugurado no início deste século nas rebeliões coordenadas em presídios estaduais paulistas.
Não surpreende a tragédia das redes de quadrilha de São Paulo, mas sim a hipocrisia através da qual o tema fora tratado após o Salve Geral de 2006.
Recordo que em agosto de 2008, durante o 6º Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) em Campinas, questionei um notório professor da USP a respeito de seus elogios para a política prisional do estado.
Dizia o colega que o índice de homicídios caíra drasticamente devido ao “sucesso” da abertura de novas prisões e o aumento da massa carcerária.
Perguntei-lhe quanto ao chamado “fator PCC”. Isto é, como a rede de quadrilhas se sofistica, consolidando domínios territoriais, aumenta o controle sobre o varejo do crime, diminuindo por consequência a violência nas ruas.
Afirmei o óbvio e, com o perdão da ironia, ouvi cobras e lagartos do nobre docente. Infelizmente, tinha razão.
A hipocrisia caminha lado a lado com o eufemismo. O acórdão entre mídia e governo, ao evitar (praticamente proibindo) a citação da sigla do PCC não resolve em nada, apenas aumenta a desinformação estrutural.
A maioria de leitores, ouvintes e telespectadores precisa ser devidamente informada sobre o que está ocorrendo por dentro do carcomido aparelho de segurança da locomotiva do país.
É impossível imaginar que uma facção criminosa tenha um sistema de inteligência tão poderoso a ponto de localizar e perseguir dezenas de PMs à paisana e em dia de folga. Parece óbvio supor que houve infiltração, agentes dobrados ou corrupção policial pura e simples na venda destes dados.
O mesmo pode-se dizer quanto à agressividade do PCC contra os órgãos de segurança. As mortes não são episódicas nem pontuais, fazem parte do próprio modus operandi da facção. Tal conflito sempre existiu desde que o Primeiro Comando foi criado, alterando em sua intensidade e divulgação midiática subsequente.
Para além da hipocrisia, o fator PCC implica no controle das cadeias de São Paulo pela facção criminosa, e também a organização territorial de suas áreas de influência.
Como tem uma tradição belicista, em momentos cíclicos a guerra se acentua. Vive-se hoje um novo Salve Geral e suas consequências.
Bruno Lima Rocha é cientista político
www.estrategiaeanalise.com.br/blimarocha@gmail.com
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