quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Quem foi eleito com o voto que eu dei?, por Edgar Flexa Ribeiro



Agora que aqui no Rio já acabou, posso fazer a pergunta cuja resposta o eleitor brasileiro não está autorizado a conhecer: quem foi eleito com o voto que eu dei?
Só sei – só me permitem saber - que não foi necessariamente aquele em quem votei.
Posso ter votado em um amigo de longa data, cuja competência e honestidade conheço e por quem respondo. Se ele foi eleito não sei se meu voto serviu para elegê-lo ou a um outro. Se ele não foi eleito, é pior...
Meu voto, processado numa espécie de liquidificador da vontade política do eleitor, pode ter sido utilizado para eleger outro candidato, que não conheço. Ou até conheço, mas no qual jamais votaria.
E mais: digamos que tenha dado um voto “ideológico”, por convicção política, a alguém de um determinado partido, cujas propostas coincidem com meu pensamento. Mas graças a certas “alianças” eleitorais meu voto pode ter sido desviado para outro partido, com propostas com as quais nem concordo, nem aprovo.
O mais curioso é que escolhemos um prefeito para gerenciar o município, mas aqueles que elegemos para expressar nossas ideias e nossos propósitos - para nos representar, enfim – são os vereadores.
E não sabemos onde nosso voto foi parar.
Dentro de dois anos vamos ter mais eleições. Para Presidente da República e Governadores, para os poderes executivos da federação e dos estados. Para Senadores, que representarão os diferentes estados que compõem a federação.
Como com os prefeitos, saberemos se o candidato em quem votamos foi ou não eleito Presidente, Governador, Senador.
Também no caso de deputados federais e estaduais - representantes diretos de nossa vontade – saberemos quem elegemos, mas não saberemos quais os outros candidatos que nosso voto elegeu.
Eis onde brota a maior parte de todas as encrencas, do “mensalão” e demais bandalheiras à delirante ocupação de cargos em comissão por uma malta de apaniguados e incompetentes, e a consequente desorganização do serviço público.
Embalados na irresponsabilidade, anônimos perante o eleitorado, sem ter que responder pelo que fazem, nossos “representantes” permitem-se tranquilamente tudo isso que vemos acontecer.
E nós não temos como influir para corrigir.
Eles, que nos representam, se vendem, nomeiam os cabos eleitorais, servem-se à vontade, trabalham três dias por semana, chantageiam os poderes executivos e vivem à tripa forra.
E nós somos obrigados a votar!
Contudo, ao que parece, começa uma reação: o aumento dos votos nulos para vereador. Talvez seja efeito do horário eleitoral. Ou alguém é levado a eleger com seu voto uma daquelas figuras?


Vamos anular. Ou, se é para ficar como está, que o voto seja facultativo.
Ser obrigado a votar, assim, nessas condições, é que não dá mais.

Edgar Flexa Ribeiro é educador, radialista e presidente da Associação Brasileira de Educação

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