Nas últimas semanas vários acontecimentos me levaram a ter contato com médicos. Primeiro, encontrei duas amigas em Dresden e Berlim que são médicas em início de carreira. Todas estão fazendo suas especializações em hospitais públicos e universitários. Como adoro séries de médicos, faço muitas perguntas bestas.
Segundo, por causa de uma enxaqueca não diagnosticada, fui parar num rodízio de médico geral-emergência neurológica-radiologia-neuro-médico geral ad infinitum. Tudo para descobrir a causa de uma dor de cabeça.
Enquanto esperava em média 2 horas para cada consulta, pude satisfazer minhas curiosidades mórbidas sobre o cotidiano da vida dos médicos observando o ir e vir destas criaturas.
Terceiro, os médicos alemães estão na pauta do dia: reclamam que ganham muito pouco para o tanto que trabalham, que os convênios médicos repassam muito pouco dinheiro por paciente, que as condições são sehr schlecht (muito ruins). Você já viu esse filme?
Tendo em vista que esperei no total umas 24 horas em salas de espera, conclui que há poucos médicos na Alemanha. Para marcar uma consulta com um especialista, há de se esperar no mínimo 2 meses. “Oi, preciso ver um neuro”. “Ok, a senhora pode ligar semana que vem? Ainda não recebemos a agenda 2013.”
Há duas semanas, consultórios fecharam suas portas por um dia e fizeram “greve” em protesto contra o (baixo) salário de em média 5500 Euros (netto) por mês. Ótimos hospitais, tecnologia de ponta, organização, sistema perfeito e médicos insatisfeitos por causa de uma incrível burocracia dos convênios médicos. Esse é o quadro.
Eu, por exemplo, tive que fazer duas tomografias em menos de duas semanas em um aparelho moderníssimo. Deve ter sido coisa de 2 mil Euros. Depois de toda história épica, me diz o radiólogo: “Ninguém faz tomografia por causa de enxaqueca!” É, meu amigo, mas antes ninguém sabia que era enxaqueca.
Segundo o que andei lendo, o meu convênio com toda a certeza vai implicar com toda a equipe de médicos que “levou-me” a dar todo esse prejuízo. Essa “implicância” acontece diariamente, na hora do repasse da grana, e é o maior desgosto da categoria.
Por essas e outras, um grande número de recém-formados optam pela emigração em busca de honorários mais “justos”. Países como Canadá e Suíça pagariam melhor e ofereceriam condições melhores de trabalho.
É, doutores, como dizem em alemão: “das Leben ist kein Ponyhof!” (a vida não é um mar de rosas).
Tamine Maklouf é jornalista e ilustradora nas horas vagas. Mora na Alemanha desde agosto de 2009, onde se encontra na “ponte terrestre” Dresden-Berlim. De lá, mantém o blog www.diekarambolage.wordpress.com
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