12/10/2012
Laurence Bittencourt (1)
A política, ao contrário do que muita gente pensa, faz parte das paixões da polis. Nesse sentido, penso eu, os gregos estavam errados. São fragmentos de ânsias e desejos imaginários que tendem a nunca serem correspondidos, a não ser claro, no plano imaginário. Não é à toa que muito dos grandes pensadores identificaram na política uma tábua de salvação de cunho puramente religioso. Não mais que isso.
Uma tábua de salvação bem entendido, que muitas se apegam como algo virtualmente enganador, e que ao final, só serve mesmo para quem a manipula, basta perceber o jogo político de cada um. O mundo real é de outra ordem, se assim posso me expressar, correndo o risco de ser mal interpretado. O que quero dizer com isso? Que as promessas e expectativas não correspondem ao dia a dia de cada um. O que me leva a pensar na questão do imaginário como uma discussão interessante para se debater ainda que dado a muitas controvérsias.
Há também para quem conhece o Ensaio de Kant sobre a taxonomia (classificação) das doenças mentais de 1764 em que quase inaugurando um novo campo semântico o filósofo de Königsberg faz discorrer sobre a diferença entre ilusão e a propensão para a loucura.
Bom, mas se queremos refletir sobre o plano imaginário penso que é importante partirmos daquele que na autora do mundo moderno no plano filosófico transformou e elevou a consciência, o eu, a uma condição de certeza, lugar de verdade, da realidade, sendo ele, Descartes, com o seu Cogito (penso, logo existo).
Hoje sabemos que Descartes estava errado e que a consciência engana e se engana. Não são apenas os sentidos que nos enganam, e enganam. A consciência também, justamente porque lugar do imaginário por excelência, da imaginação, algumas vezes refúgio do sujeito diante de dissabores no plano da realidade, algo que Freud nos ensinou e explicou.
Mas foi e coube a Lacan correndo em polo oposto, mostrar com a maestria própria do seu gênio, que o “eu” na verdade é e trata-se de uma construção puramente imaginaria, sendo o lugar do desconhecimento ao contrário do que pensava Descartes. Fruto dos enganos e autoenganos, daí a aproximação interessantíssima que Lacan promove no plano da clínica, da psicopatologia, com a “certeza” do paranoico, mostrando que a dúvida pode ser uma boa medida de sanidade mental.
Aliás, quem já entrou em um manicômio pode ou pôde se deparar com o “discurso” do chamado alienado estruturado dentro de uma certeza. Ou seja, dificilmente se pode contrariar ou desmentir quando um deles afirma: “Eu sou Napoleão Bonaparte”, ou ainda “Eu sou Jesus Cristo”, ou ainda uma outra “Eu sou Joana D´arc”. É um discurso de certeza. O Discurso paranoico não deixa brechas a dúvidas, uma vez que ele tem a “consciência” irrefutável de sua verdade.
Claro que há discursos e discursos, sem dúvida, mas todo esse arrazoado fica como um estímulo para se pensar os discursos da Polis e suas paixões da alma.
(1) Jornalista.
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