POLÍTICA
“Muitos já disseram que o Google é Deus, o que talvez não seja verdade. Mas isto nós sabemos: o Google é benévolo e às vezes furioso. Em verdade, o Google dá e o Google tira”.
Não se pode garantir que o jornalista norte-americano Bob Garfield, colunista há 25 anos do Advertising Age e autor do sucesso “Cenário do Caos” (Cultrix/Meio & Mensagem), livro que analisa de maneira implacável e divertida o colapso da mídia de massa, conheça o ex-presidente Lula.
Se conhecesse, com certeza teria pensado duas vezes antes de comparar o Google a Deus, pois a ex-senadora e atual ministra Marta Suplicy conhece muito melhor do que ele a verdadeira natureza da entidade divina.
Na sua primeira performance como ministra da Cultura, a ex-senadora envergonhou a Vivien Leigh de “Um Bonde Chamado Desejo” fingindo supresa com a nomeação.
Articulou um “oh!” com a canastrice de uma velha atriz de teatro de revistas. Nem Virginia Lane, coitada, soaria tão falsa.
Marta, até o fã-clube de Supla sabe, queria mesmo era ser de novo prefeita de São Paulo. Não esperava que esse seu desejo de certa forma tão natural e banal fosse bater de frente com os desígnios divinos.
Havia outro nome no bolso do divinal colete. O ex-ministro da Educação Fernando Haddad foi ungido com os santos óleos do “novo”, destinado a contrapor-se ao “velho”, e eis que a velha soldada do partido foi colocada a escanteio com alguns requintes sutis de humilhação.
A dama combatente não se fez de rogada. Armou seu beicinho e ameaçou nao participar da campanha. Disse que iria - se fosse- quando lhe desse na telha, e ameaçou não estender a sua mão ao candidato para guiá-lo pela buraqueira da periferia de São Paulo, que ela conhece como a palma da mão e onde tem sólidos e tradicionais redutos de votos.
Falou-se em negociações compensatórias, já que ficar tocando a campainha do Senado para cortar a palavra de seus pares não pareceu a ela uma recompensa muito atraente. Até a embaixada em Washington chegou a ser citada.
Dois dias depois de aparecer na campanha da TV proclamando as virtudes do rapaz que lhe tomou o lugar, já tendo desmanchado o amuo e recomposto o sorriso, Marta pôde pronunciar o seu “oh !” de falso espanto ao ser anunciada como a sucessora da massacrada irmã de Chico Buarque, que passou toda a sua gestão agachando-se para não ser atingida pelas balas amigas.
Tão feliz estava Marta com seu novo ministério, que não hesitou em agradecer ao seu benfeitor, a quem, numa hipérbole, elevou à categoria de Deus.
Bob Garfield, que não sabe nada da política brasileira, vai ter que estudar muito para aprender que o Google precisa se esforçar muito para comparar-se em poder ao verdadeiro Deus, aquele que dá e tira.
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail: svaia@uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário