quarta-feira, 8 de agosto de 2012

NO FINAL SÃO TODOS UNS ANJOS - LAURENCE BITTENCOURT (*)



O mensalão não existe. Nunca existiu. O mensalão não passa (ou passou) de uma peça (mais uma?) de ficção criada pela cabeça do Procurador Geral da República. Essa é a conclusão, pelo menos inicial, para quem acompanhou as defesas feitas pelos advogados de José Dirceu, acusado pelo Procurador Geral de ser o mentor e o chefe da quadrilha do mensalão, José Genoíno, Delúbio Soares e Marcos Valério.
Só no Brasil a ficção toma o lugar da realidade e o que seria realidade não passa de uma peça de ficção. Adoramos esse tipo de situação. Adoramos. Claro, alguém pode dizer, “mas era isso que se esperava por parte dos advogados que estão lá para fazer a defesa dos seus clientes tentando desmentir a Procuradoria”. Sem dúvida. E os mais “sabidinhos” dirão, tentando com isso fazer a defesa do estado democrático de direito, que todo cidadão é inocente até prova em contrário e que todo cidadão tem direito a defesa, incluindo os mensaleiros. Sem dúvida. Aliás, é isso que estamos vendo, ou melhor, assistindo. Para quem tem estomago.
Bom, pelo que li após o inicio das defesas, José Dirceu agradeceu comovido a defesa feita por seu advogado, José Luis de Oliveira. Agradeceu após o término da defesa. Segundo as palavras de José Dirceu “ele é devedor até o fim dos dias para com o seu advogado”. É de se imaginar então, que pela forma com que agradeceu, que o ex-Chefe da Casa Civil do governo Lula já se sente livre, leve e solto. Ou seja, não imagina sendo condenado.
O incrível é que para o advogado de José Dirceu, o pedido feito pelo Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, de condenação do ex-ministro da Casa Civil, é a “mais atrevida e escandalosa afronta à Constituição”.
Fica uma pergunta no ar, pelo menos para mim: se José Dirceu não é culpado pelo Mensalão, quem seria então? Pelas primeiras defesas, outra conclusão: são todos uns anjos. No Brasil o demônio é o povo. Talvez seja.
Só falta agora os políticos cassados que receberam as gordíssimas propinas negarem que receberam. Todas as pistas, todas as marcas deixadas foram apagadas. O mensalão é uma ilusão. Aliás, como todos os escândalos nesse país. É bom lembrar que durante a leitura de acusação o procurador-geral da República, Roberto Gurgel afirmou que os réus pagaram a políticos, assessores em dinheiro de várias formas pelo apoio ao governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Todos os pagamentos estão documentalmente comprovados nos autos. Em vários casos, temos pagamentos até semanais”. Segundo o PGR houve saques na boca do caixa em agencias do Banco Rural, entrega de dinheiro em hotéis ou pessoalmente em outros locais marcados.
Mas segunda a defesa, nada disse existiu. Somos um país isento de corrupção. Claro, no Brasil a maior declaração de inocência e isenção de corrupção nas prefeituras do país é dada todos os anos pelos Tribunais de Contas. Agora com a defesa dos mensaleiros podemos dizer: no Brasil não há corrupção. Apesar das gravações e depoimentos. Fico me perguntando, cadê a Policia Federal? Nenhum grampo? Quer dizer que grampo só para Demóstenes e Cachoeira?
Continuo achando que nenhum dos mensaleiros corruptos irá preso. Talvez, no máximo, uma penalidade mais branda. É da nossa natureza, a chamada conciliação das elites. Que o digam os fichas limpas e os fichas sujas. No final são todos uns anjos. O grande vilão, esse, continua sendo o povo. E tome eleições e haja compra de votos, o mensalão do povo. Já o outro mensalão, esse, esse nunca existiu.
(*) Jornalista laurenceleite@bol.com.br

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