CRÔNICA
De vez em quando eu lia notícias no Brasil sobre alguma rua sem saída que havia sido fechada pelos moradores, numa tentativa desesperada de conter a violência. Se fosse considerado um ato ilegal, e se não tivesse alguém poderoso morando na rua, o portão era colocado abaixo.
Aqui as comunidades são convidadas a fechar suas ruas. Pelo menos por uma noite no ano. O evento que marca a primeira terça-feira de agosto serve para promover a conscientização e a prevenção ao crime. A ideia é que comunidades e polícia atuem juntas para termos cidades mais seguras.
Chamou minha atenção que um elemento fundamental do evento é fazer com que os vizinhos saiam de suas casas e vão às ruas para se conhecerem. Eu supunha que ficar trancado dentro de casa e não interagir com quem mora ao lado era característica de cidade violenta, em que a gente não confia em ninguém, e que nunca aconteceria numa rua cheia de casas que mais parecem de boneca. Mistura de alívio e decepção perceber que alguns problemas são internacionais.
Piqueniques e brincadeiras para as crianças são as atrações para que as comunidades se engajem no chamado “Night Out Against Crime”, um evento nacional que reuniu 37 milhões de pessoas no ano passado. Só em Seattle, foram 1.200 comunidades.
O departamento de polícia diz que o evento da próxima terça-feira é uma oportunidade de levantar questões importantes para a segurança: prevenção ao crime e às drogas, patrulhamento de rua, desenvolvimento de programas locais. E manda uma mensagem aos criminosos de que a comunidade está organizada, ativa, e pronta para o combate.
Foto: Quinn Dombrowski @CC
Já contei aqui que Seattle tem até super-heroi para garantir a segurança de suas ruas. Mas o patrulhamento realizado por civis ficou na berlinda por aqui quando o adolescente Trayvon Martin foi morto por George Zimmerman, em fevereiro. Zimmerman liderava a patrulha na sua comunidade e acabou atirando em Martin, que era negro, num conflito ainda não totalmente esclarecido.
O Brasil já é familiarizado com o conceito de polícia comunitária: população e instituições de segurança pública e defesa social juntas pela resolução de questões relacionadas à promoção de cidades mais seguras para todos.
Acho importante essa mudança de mentalidade. Metanoia, para referenciar a palavra de origem grega. Em vez de se trancar em casa e reclamar que está tudo ruim e ninguém faz nada, assumir seu papel de participante da sociedade e atuar. Em qualquer nível que seja.
Melissa de Andrade é jornalista com mestrado em Negócios Digitais no Reino Unido. Ama teatro, gérberas cor de laranja e seus três gatinhos. Atua como estrategista de Mídias Sociais em Seattle, de onde mantém o blog Preview e, às sextas, escreve para o Blog do Noblat.
Nenhum comentário:
Postar um comentário