Luis Nassif
A construção de um país é um processo cumulativo que, em determinados períodos permite saltos, mudanças de escala, alterando profundamente o tecido econômico, social e político.
Isso se dá em momentos históricos próprios, em que se formam mercados de consumo de massa.
Foi assim nos Estados Unidos de meados do século 19. Há um início de industrialização na costa do Atlântico. Depois, um forte movimento migratório. Quando a indústria ganha escala, busca novos mercados internos, levando o desenvolvimento para o oeste e para o sul.
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Criam-se, então, as condições para a revolução industrial e política. Novos consumidores são agregados tanto ao mercado econômico quanto político social. Nesse período, emerge uma pujante sociedade civil, ainda hoje o fator mais dinâmico do desenvolvimento norte-americano.
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No Brasil, lutas sociais e inclusão social ajudaram na modernização das estruturas nos anos 30 e 50 – produzindo também crises políticas significativas.
Mas em pelo menos três momentos o país jogou fora janelas de oportunidade históricas.
A primeira, no final do século 19, com a Abolição da Escravatura e a política migratória. Falta de políticas inclusivas e de oportunidades para os imigrantes atrasaram o desenvolvimento do mercado interno.
A segunda janela perdida foi nos anos 70. Completa-se a urbanização brasileira, desenvolvem-se novos centros industriais e uma enorme seca expulsa populações inteiras do nordeste para o sudeste. Ao mesmo tempo, pelo menos na primeira metade da década o país experimentou taxas elevadas de crescimento. Uma melhor distribuição de renda forneceria as bases internas para um crescimento sustentado.
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A terceira janela de oportunidade foi o próprio Plano Real. O mero fim da inflação trouxe milhões de brasileiros para o mercado de consumo em um momento de profundas transformações na cadeia produtiva das multinacionais. As jogadas com o câmbio e juros mataram essa possibilidade, adiando em 12 anos a explosão do mercado interno de consumo.
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Com o aumento do salário mínimo e as políticas de transferência de rendas, emergiu um novo mercado de consumo que mudou a escala da produção das empresas.
Mais que isso, trouxe um novo pensamento sistêmico à economia brasileira, fugindo das análises terrivelmente emburrecedoras dos cabeças de planilha.
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O cabeça de planilha primário tende a considerar todo gasto social como despesa, quase próxima ao desperdício. No entanto, além da responsabilidade do país para com as populações vulneráveis, políticas de transferência de renda possibilitam:
- Melhoria no sistema educacional, ao substituir a mendicância pela escola para as crianças de baixa renda.
- Melhoria substancial nos gastos com saúde, ao afastar as famílias da subnutrição e seus riscos.
- Melhoria na segurança, ao deixar jovens menos expostos ao crime organizado.
- Dinamização do mercado interno.
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O grande desafio será mudar as formas de financiamento da Previdência e das políticas sociais, tirando o peso das folhas de salário, de maneira a desonerar a mão-de-obra.
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