Em dois séculos de existência, o Banco do Brasil quebrou algumas vezes e terminou resgatado com o dinheiro do contribuinte. Como sempre acontece nestes casos.
A primeira falência, provocada pela família real, devido a seus gastos e saques feitos na volta de D. João VI a Portugal, levou o BB a ser liquidado em 1829.
Pode-se então dizer que o primeiro grande aparelhamento da instituição financeira pública, feito pela própria corte portuguesa, causou a falência inaugural do BB.
Esta visão patrimonialista que dirigentes, no Império e na República, cultivam do banco é que o leva a passar por ciclos de dificuldades operacionais e, como agora no mensalão, a fazer parte de escândalos.
O uso que o sindicalista petista Henrique Pizzolato fez de verbas de publicidade do BB para alimentar o valerioduto do mensalão faz parte desta centenária linhagem de “malfeitos” cometidos na maior instituição financeira pública do país sob as bênçãos de poderosos de ocasião.
O julgamento do mensalão está apenas no início, mas já se confirma que os dois polos nos debates entre os juízes do Supremo são o relator do processo, Joaquim Barbosa, e o revisor, Ricardo Lewandowski.
Porém, a primeira concordância entre eles foi a atuação de Pizzolato no caso, quando o sindicalista, funcionário de carreira do BB, ocupou a diretoria de marketing do banco. Barbosa e Lewandowski consideraram Henrique Pizzolato culpado nas acusações do Ministério Público de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato.
O ex-diretor do BB pode vir a ser inocentado pelos nove ministros restantes. Mas já está na sua biografia o fato de que a Procuradoria-Geral da República o acusou de desviar dezenas de milhões de dinheiro público (BB/Visanet) para o mensalão e, em troca, receber a propina de R$ 326 mil.
Isto só foi possível devido à política de aparelhamento de segmentos da máquina pública, em estatais e na administração direta, executada com afinco a partir da posse de Lula no primeiro mandato, em janeiro de 2003.
No caso do BB, nem mesmo a nomeação de um presidente oriundo da iniciativa privada, Cássio Casseb, logo no início do governo, conteve a ânsia de companheiros que pela primeira vez chegavam ao poder central.
Ao contrário, o próprio Casseb parece ter sido contaminado pela cultura do aparelhamento e do patrimonialismo, tanto que, menos de dois anos depois de assumir, saiu do banco acusado de contratar uma consultoria de conhecidos, a preços altos e sem licitação.
O capítulo do BB no mensalão segue o mesmo roteiro visto na Petrobras, no setor elétrico — este doado a aliados peemedebistas do PT —, no Incra, onde o MST e satélites se assentaram, etc.
A condenação parcial de Pizzolato, o desarranjo administrativo da Petrobras, os desvios de dinheiro do contribuinte na reforma agrária, tudo é parte de uma obra bem mais ampla construída pelo aparelhamento lulopetista.
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