sexta-feira, 11 de maio de 2012

Governo de extrema esquerda de província basca lembra Alemanha nazista ao fazer censo de “bascos puros


11/05/2012
 às 18:17 \ Vasto Mundo

Garitano com o punho levantado de antigamente: em busca de cidadãos que são bascos "puros", lembrando a Alemanha nazista (Foto: gara.net)
Os extremos se tocam em política – a cada dia isto fica mais claro. Pois é o que está em curso no momento na Espanha, mais especificamente no País Basco.
O governo de extrema esquerda, ultranacionalista e separatista de uma das três províncias bascas, Guipúzcoa, primeiro colocou em marcha um estranho censo sobre quem, na província, fala o idioma basco (os últimos dados disponíveis sobre a totalidade do País Basco mostram que apenas cerca de 35% da população têm o domínio da dificílima língua tradicional, o euskera).
Políticos de diferentes partidos reclamaram, temendo discriminação – por exemplo, nos empregos públicos – de quem não seja corrente emeuskera.
Nacionalista que debocha das instituições
Agora, a coisa ficou pior. O “deputado-geral” de Guipúzcoa, Martín Garitano — espécie de mini-governador –, um dos dirigentes da coligação Bildu, no poder, pretende realizar outro censo, desta vez para identificar os guipuzcoanos por seu lugar de nascimento.
Garitano é um daqueles nacionalistas bascos extremados que debocha das instituições espanholas: recusou-se durante bom tempo a hastear a bandeira nacional no edifício em que administra a província — até ser obrigado judicialmente –, ainda é do tempo de fazer discurso com o punho levantado, vai a solenidades oficiais vestido de qualquer jeito, com camisa aberta no peito e calça desbotada, jamais, em qualquer hipótese, refere-se a “Espanha” (é sempre “o Estado espanhol”, ou seja, uma entidade à parte) – e por aí vai.
Guipúzcoa é província importante. Sua capital é a magnífica cidade litorânea de San Sebastian.
O órgão da diputación (o governo da província) encarregado da Migração informou que o objetivo do rescenseamento é estabelecer que cidadãos nasceram “dentro ou fora de Euskal Herria” [entidade que nunca existiu, um país mítico e irrealizável que, além do atual País Basco, incluiria um pedaço do norte da França], com “atenção para o lugar de nascimento de pais e mães”.
“Bascos puros” e a independência
O diretor de Migração, Marcos Nanclares, justifica a medida dizendo que “mais de 25% da população de Guipúscoa nasceu fora de Euskal Herria”. Segundo ele, é preciso criar políticas de integração para somar os “estrangeiros” à província aos ideais de independentismo do governo. “Não apenas isso”, continua, “mas também existem outros 25% da população cuja mãe, pai ou ambos nasceram fora”.
Ou seja, não seriam “bascos puros”. Lembra sinistramente a Alemanha nazista.
Com a maior naturalidade, Nanclares afirmou também que “Euskal Herria jamais poderá alcançar a independência se não formos capazes de criar alianças com as pessoas que vieram de fora de Euskal Herria, de incorporá-las a esse processo”. Ou seja, o governo provincial viola a Constituição, ao pregar a divisão do país — coisa que cidadãos, jornais ou partidos políticos obviamente podem fazer, mas que não se admite sejam parte do trabalho de um governo eleito segundo as normas do país.
Três categorias de cidadãos
É a primeira vez, desde que se instalou a democracia na Espanha, em 1976, que um agente público discrimina oficialmente, de forma criminosa, cidadãos – como se os cidadãos nascidos em Guipúzcoa que têm pais e mães bascos pertencessem a uma determinada espécie (possivelmente superior), os nascidos ali, mas de pai e/ou mãe não basco(s), constituíssem outra categoria de cidadãos, e os demais membros da comunidade fossem uma espécie de terceiro time.
É também a primeira vez que dirigente admite que o governo a que serve trabalha politicamente, lançando mão dos recursos públicos, visando separar o País Basco da Espanha. (No caso do tal “Euskal Herria”, falta só combinar com a França, naturalmente).
Deputada Rafaela Romero: políticas do governo de ultraesquerda da província são "racistas, sectárias, totalitárias e xenófobas, próprias da extrema direita" (Foto: YouTube)
“Políticas racistas, sectárias, totalitárias e xenófobas”
Muito corretamente, a líder do Partido Socialista nas Juntas Generales, o parlamento da província, Rafaela Romero, classificou o censo sobre a origem “racial” dos guipuzcoanos como uma “nova segregação”, que ela equiparou às “políticas mais racistas, sectárias, totalitárias e xenófobas próprias da extrema direita”.
diputación é uma extravagância – absurda, por falar nisso – da organização política da Espanha. É como se, no Brasil, além do governo federal, dos governos estaduais e das prefeituras, existisse, entre os governos estaduais e as prefeituras, uma outra instância de governo, que tivesse uma série de atribuições, um governador, deputados, funcionários etc etc.
É um absurdo, mas os deputados-gerais, que governam as 50 províncias distribuídas pelas 17 comunidades autônomas do país – como a Catalunha, a Andaluzia ou a Galícia, para citar três – dispõem de poderes, inclusive para praticar idiotices como essa.
Nas eleições do final do ano passado, apesar da impugnação do governo e do equivalente ao Ministério Público espanhol, o Tribunal Supremo considerou válida uma coligação de extrema esquerda, Bildu, próxima à organização terrorista ETA, que até recentemente, e durante 44 anos, pregou a luta armada como forma de tornar independente o País Basco.
É essa turma que está procurando bascos com e sem “pureza racial”.

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