sábado, 28 de abril de 2012

Cão guia da matilha (por Juca Kfouri)



 



POR FAUSTO MARTIN DE SANCTIS*
Tem sido comum a times de futebol uma rica história de comprometimento com a vitória, baseada no engajamento de muitas torcidas, sempre leais e apaixonadas.
Um nível de cobrança, por excelência, único e os clubes são sempre chamados a agir e a reagir, se o caso.
E assim tem ocorrido.
Pelo menos com os chamados grandes, nos quais se verifica, muitas vezes até, o envolvimento de ex-jogadores para a manutenção da qualidade adquirida ou daquela que se pretende adquirir.
Trata-se, em verdade, de um bem articulado e criativo plano de administração do esporte.
Os times sabem exatamente até onde chegaram e o que representam, mas não quem serão, de fato, após o certame iniciar.
Isso tem imposto um esforço contínuo e árduo trabalho e geralmente leva em conta uma ação multidisciplinar, incluindo, velocidade, atletismo e ganho de massa muscular.
Esse mundo, marcado de cobranças, une dirigentes, jogadores e fãs e acaba conduzindo à descoberta de uma identidade.
Que tipo de clube será, depende, em outras palavras, se se deseja ser o cão guia da matilha ou ficar simplesmente numa posição secundária e aquém dos demais. Identidade consiste em algo que somente existe com a repetição, com a prática.
Uma vez formada (aí poderíamos falar em caráter), vislumbrar-se-ia o futuro.
Ou seja, aquilo que muitos acreditam seja incerto, pode ser algo imaginado e concretizado.
Trata-se de falar e discutir com o grupo, de respirar, de jogar e principalmente de se doar e de acreditar.
Profissionalizar-se. Dar um passo a mais. Um extra, um plus.
Um basta na veia defensiva e no derrotismo, com energia, intensidade e tecnicismo.
Não se pode deixar de mencionar o fator tempo.
Consistência significa justamente um conjunto de ações praticadas, por um mesmo grupo, com o desenvolvimento da verdadeira química coletiva.
No dia 23 de abril, pude assistir a uma partida do Washington Wizards contra os Bobcats no Verizon Center (Washington DC/EUA) e constatar o quão é querido um jogador, em especial.
O prestigiado jogador brasileiro Nenê, ex-Vasco da Gama, contratado pelo Washington Wizards, tem enchido de orgulho sua torcida.
Esta repetidamente manifestou a alegria de contar com o talento estrangeiro. E mais.
Tem dado mostras de que a partir daquele profissional é possível também celebrar uma cultura, a brasileira.
Cogita-se até de introduzir a batucada dentre os fãs americanos.
Deseja-se que um dia, o time de basquete, ainda pequeno (em termos de vitórias), após sério trabalho e união, possa estar junto, festejando o sucesso, apesar da ciência de todos do longo caminho a ser trilhado.
Não há como contar com qualquer outro meio senão pela força do trabalho conjunto, pela técnica e pelo coleguismo.
Na quadra, no campo, na vida, não podemos contar a não ser com aqueles que possuem objetivos comuns e estão em situação de cumplicidade e desprendimento.
Faz-se muito mais juntos…
O caminho para o sucesso brota do conjunto, da humildade e da persistência.
Deve-se ensinar e aprender como se defender, controlar o passo, o espaço, a bola, não pertencendo a esta um rumo incerto.
A direção será dada por aquele que a detém e jamais o fará sozinho.
A química coletiva configurará um resultado se cada um abrir mão de certa individualidade, em prol do conjunto.
Sem isso, não há time, grupo, muito menos o resultado esperado.
Neymar sozinho não leva o time à vitória.
Que orgulho do brasileiro Nenê, integrado ao conjunto.
Que orgulho do conjunto integrado ao brasileiro.
Afinal, estar fora de casa para ficar com sua outra “família” tem sentido se for para prestigiar um trabalho que se deseja vitorioso.
A vitória aqui não significa simplesmente ganhar títulos, mas dedicar-se para o reforço e o desenvolvimento da comunidade, a construção de alguns pilares como: educação, conhecimento, saúde, fome, fazendo a diferença para muitos fãs.
Quanto às nossas instituições públicas (Executivo, Legislativo e Judiciário), que a poucos orgulha, estaria talvez faltando um paradigma, o paradigma que está incrivelmente tão presente entre nós.
Tudo que está se vivenciando no esporte deveria servir de exemplo aos que atuam na vida pública.
Pensar sobre e para o todo, promovendo ações integradas e não tópicas, individualizadas ou midiáticas.
A busca da eficácia do serviço público.
*Fausto Martin De Sanctis é desembargador do TRF3 e escritor.

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