sábado, 28 de abril de 2012

A causa de fenômenos como Cachoeira e Demóstenes



Fernando Abrucio, ÉPOCA
O escândalo em pauta envolve o bicheiro Carlinhos Cachoeira e suas ramificações com políticos brasileiros. Não param de surgir informações novas e fitas gravadas pela Polícia Federal mostrando intrincadas e incestuosas relações entre o Poder Público e o setor privado.
Trata-se daquelas avalanches que não há mais como segurar ou domesticar, independentemente da realização ou sucesso de uma CPI.
Como tais fenômenos, em maior ou menor grau, têm se repetido nos últimos anos, é imprescindível perguntar duas coisas: o que gerou uma figura como Carlinhos Cachoeira? Há outros com suas características pelo país?
Há várias causas para esse fenômeno. Elas passam pelo sistema de financiamento de campanha – e da fragilidade de seu controle –, pelo excesso de cargos comissionados no Estado brasileiro, pelas dificuldades de estabelecer competições idôneas nos processos licitatórios e, ainda, pela proliferação do discurso moralista como forma de resolver o problema da corrupção, quando o melhor sempre é aperfeiçoar as instituições e instrumentos que possam barrar a promiscuidade entre os governos e as empresas.
Sobre esse último aspecto, vale ressaltar algo: desconfie daqueles que se colocam acima do bem e do mal, procuram crucificar o acusado, mas nunca propõem mudanças mais profundas na legislação e nas estruturas de funcionamento dos governos.
Mesmo que nada tivesse sido descoberto contra o senador Demóstenes Torres, sua forma de atuação sempre foi de um “salvador da pátria” e sua visão institucional geralmente foi pífia, pois o que interessava era derrubar o inimigo político – no caso, os governos petistas – a qualquer custo.
É bem verdade que esse udenismo já fora praticado por políticos do PT no passado.
De tal modo que é preciso buscar políticos e partidos que se guiem mais por projetos de país que por acusações morais contra seus adversários. Para lembrar um episódio célebre da política recente, o mais fácil foi derrubar Collor e seu tesoureiro de campanha, ao passo que difícil mesmo é criar um ambiente que evite a proliferação da corrupção.
Várias são as causas de fenômenos como Carlinhos Cachoeira, mas pouco se fala que a origem de suas práticas está, quase sempre, no jogo político subnacional.
Foi assim com Collor em sua República de Alagoas. Foi assim nos primórdios do mensalão em terras mineiras. Foi assim com o pedido de dinheiro para campanha de Waldomiro Diniz para os candidatos do PT e do PSB no Rio de Janeiro.


Fernando Abrucio é doutor em ciência política pela USP, professor da Fundação Getulio Vargas (SP)

Nenhum comentário:

Postar um comentário