sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

As cinco estratégias que (não) funcionarão para impedir a guerra civil na Síria


no twitter @gugachacra

Se o leitor fosse o Obama, o que faria neste momento em relação à Síria?

1 – Enviaria tropas americanas para tentar estabelecer a paz?
Difícil, os americanos acabaram de sair do Iraque depois de milhares de mortes. Não há clima para ocupação nos EUA e no mundo árabe. Sem falar no risco de não dar certo. Veja o que aconteceu com os marines no Líbano nos anos 1980. E este ano é de eleição. Um revés na Síria pode afetar a popularidade do presidente, que em política externa pode apresentar o troféu Bin Laden

2 – Deixar Assad prosseguir com os massacres?
Até daria inicialmente e este era o plano. Mas o regime sírio está matando demais mesmo para os padrões da região. Ele se transformou no mais sanguinário líder árabe desde a morte de seu pai e da queda de Saddam Hussein. As redes de TV exibem as imagens o tempo todo. O país já está em guerra civil, com choques sectários (sunitas da oposição contra cristãos e alauítas pró-governo). O cenário pode se agravar. E, se Assad vencer (não descartem esta possibilidade), também seria um revés para Obama

3 – Apoiar uma ação militar dos países vizinhos?
Caso a Arábia Saudita envie tropas para a Síria, o Iraque e o Irã devem intervir para defender Assad e poderemos ter uma gigantesca guerra regional. O Líbano também seria sugado para o conflito e dezenas de milhares de pessoas morreriam. Israel também correria risco de ser afetado

4 – Armar os opositores e reconhecer o governo no exílio?
Esta alternativa enfrenta obstáculos logísticos. Primeiro, como chegar até Homs? A costa mediterrânea é alauíta (pró-Assad) e tem uma base militar russa, sendo improvável o uso como via de acesso até a cidade. A fronteira que liga Baalbeck, no Líbano, a Homs é controlada pelo Hezbollah e este não permitiria a entrada de ajuda humanitária e militar. Um corredor vindo da Turquia seria difícil. Precisaria passar por centenas de quilômetros, cruzando Aleppo, segunda cidade da Síria e bastião pró-Assad. Dá apenas para manter o contrabando de armas, como já ocorre atualmente. Mas é insuficiente para lutar contra o Exército

5 – Apoiar um golpe dentro do regime?
Esta é a estratégia que tem ganho força e conta com o apoio indireto russo (que prefere uma sucessão mais organizada). Basicamente, Assad seria “convencido” a ir para o exílio na Argélia, Marrocos ou Emirados Árabes. Em seu lugar, entraria seu vice, Farouq al Shaara. De um lado, ele é do regime, controlado por alauítas e cristãos. De outro, é sunita e daria algumas garantias aos opositores, majoritariamente deste ramo do islamismo. A estabilidade seria relativa, nos moldes do Iêmen. Mas o cenário tenderia a virar o egípcio, onde o regime permaneceu sem Mubarak. Sem falar que estariam no poder justamente as pessoas responsáveis por matar milhares, o que não aconteceu no Cairo. No fim, seria uma solução provisória, até as pessoas esquecerem que a Síria existe e a guerra civil prosseguir sem ninguém prestar atenção. Mais ou menos como o Líbano entre 1984 e 90, a Argélia nos últimos 15 anos, o Iraque e a Líbia atualmente. Obama, pelo menos, lavaria as mãos até as eleições. Esta é a triste realidade

O que eu proponho? Não proponho nada. Acho que a Síria rumará cada vez mais para uma guerra civil sectária de baixa à média intensidade sem data para acabar. Milhares de pessoas morrerão, independentemente do que for feito. Tem situações no mundo sem solução. A Síria é uma delas.

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