Com a inevitável lembrança do Holocausto, acabaram as comemorações dos 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. Numa trapaça do tempo, fica a impressão de que, em 1945, confrontado com a barbárie, o mundo reagiu com repulsa geral. Noutra, em 2015, acredita-se que, hoje, coisas daquele tipo são inimagináveis. Infelizmente, as duas suposições são falsas. Milhares de judeus que saíram dos campos de concentração foram recebidos como intrusos quando tentaram voltar às suas casas na Europa Oriental. Quando Heda Margolius, ex-prisioneira de Auschwitz, regressou a Praga, sua vizinha perguntou-lhe: “Por que você voltou?” Em Cracóvia, houve um pogrom em agosto de 1945. Nos 18 meses posteriores ao fim da guerra, mataram-se mais judeus na Polônia, na Hungria e na Tchecoslováquia do que nos dez anos anteriores ao início do conflito. O mundo só começou a encarar o Holocausto a partir dos anos 60, depois que o primeiro-ministro israelense David Ben-Gurion, numa centelha de genialidade, mandou que Adolf Eichmann, capturado em Buenos Aires, fosse levado para um julgamento público em Tel Aviv. O gerente da Solução Final foi enforcado em 1962.
A segunda trapaça do tempo é a de que aquilo foi coisa de outra época. O ódio e a violência racial e religiosa continuam aí, expostos no cotidiano do século XXI. O Estado Islâmico, que se assenhoreou de parte do território do Iraque e da Síria, tem os ingredientes da superioridade nazista, com uma diferença: ele mata muçulmanos xiitas, judeus e cristãos. Faz isso ostensivamente e coloca filmes na rede. Um deles, “Clanging of the swords 4” (“O barulho das espadas”), com pouco mais de uma hora de duração. Coisa de profissionais, produzida há um ano. Barra pesadíssima.
Os nazistas não propagavam o que faziam. Pelas suas leis e pelos seus discursos, podia-se supor, mas não se podia ver. O Estado Islâmico usa a selvageria como instrumento de propaganda. Algo como coproduções de Heinrich Himmler, comandante da Solução Final, e de Joseph Goebbels, marqueteiro do regime. Na década de 30, havia quem tivesse uma ponta de compreensão para com os nazistas. Afinal, opunham-se aos comunistas. Hoje, esse engano pode ser alimentado, em ponto menor, pela oposição do Estado Islâmico aos Estados Unidos e a Israel.
Se há uma diferença entre 2015 e 1945, ela está no fato de que agora saiu do baralho a carta do eu-não-sabia. Só não sabe quem não quer, porque os fatos estão aí, mostrados pelo próprio Estado Islâmico.
A comédia da Sete Brasil
Depondo na CPI da Petrobras o doutor Luiz Eduardo Carneiro, presidente da Sete Brasil, informou que auditores externos não encontraram irregularidades nos contratos da empresa para a fabricação de navios e sondas para a Petrobras. Um negócio de US$ 27 bilhões. Segundo ele, Pedro Barusco e João Carlos Ferraz, que presidiu a Sete até sua chegada, em 2014, não foram “bons” executivos.
Pode-se dizer que Eike Batista, com quem Carneiro trabalhou, não foi um bom executivo porque vendeu nuvens. O caso de Barusco e Ferraz, e da própria origem da Sete, é bem outro. Barusco já confessou ter recebido US$ 100 milhões em propinas. Enquanto Carneiro falava em Brasília, Ferraz continuava negociando sua colaboração com a Viúva. Além de informações valiosas, poderá devolver algum dinheiro, quantia muito menor que a de Barusco. A essa altura, Barusco e Ferraz ajudam, Carneiro atrapalha.
O doutor assumiu a presidência da Sete há um ano. Se ele acha que faltaram à empresa “bons” executivos, de duas uma: ou não sabe onde está ou sabe e acha que pode dizer o que bem entende.
Chapa
Pelo menos um tucano assegura que o prefeito do Rio, Eduardo Paes, do PMDB, ofereceu ao PSDB a Vice-Presidência numa chapa encabeçada por ele.
Falta combinar com Geraldo Alckmin e Aécio Neves, prováveis candidatos do PSDB.
O atraso da CVM
A Comissão de Valores Mobiliários, instituição destinada a proteger os investidores, resolveu investigar a conduta do Conselho Administrativo da Petrobras. Com cinco anos de atraso, viu fumaça em suas decisões.
Tudo bem, mas a CVM poderia se perguntar porque fez sete acordos com o diretor financeiro da empresa durante o petrocomissariado. Ao longo de seis anos, o doutor pagou R$ 1,75 milhão para que não se falasse mais dos motivos que haviam levado a CVM a investigar sua conduta.
É possível que a CVM tenha sido a única xerife do mercado a fazer tantos acordos desse tipo com um diretor financeiro de uma empresa do tamanho da Petrobras. Deu no que deu.
Registro
Os integrantes do Conselho de Administração da Petrobras tinham motivos para achar que suas reuniões fossem gravadas. Os conselheiros estranhos à empresa não sabiam que estavam sendo filmados.
Pode-se entender que os vídeos tenham sido apagados, mas o banco de dados da empresa deve saber quem fez o serviço e quando.
Veneno
Um parlamentar recolheu notas de dólar com a efígie de Lula jogadas sobre o plenário da Câmara para distribuí-las, como lembrancinhas, a pedintes e flanelinhas e eleitores de Dilma.
Fachin
Ninguém pode prever o comportamento do Senado na apreciação do nome do advogado Luiz Fachin para o Supremo Tribunal.
Certamente, há ‘‘çábios’’ do Planalto acreditando que ganham a parada, assim como em janeiro acreditavam que derrotariam a candidatura de Eduardo Cunha à presidência da Câmara.
Há uma diferença entre as duas situações: contra Eduardo Cunha já não havia linha de recuo. No caso de Fachin, tanto ele como o governo podem desistir da indicação.
Terceiro tombo
Às 14h de 29 de abril, hora de Tóquio, três empresas do grupo Ishikawajima informaram ao mercado que separaram o equivalente a R$ 207 milhões para cobrir seu prejuízo no estaleiro Atlântico.
Pobre Ishikawajima. É o terceiro tombo que toma por se meter nos projetos megalomaníacos de criação de polos navais dos governos de Pindorama. Todo brasileiro com mais de 60 anos já pagou três. O primeiro com Juscelino Kubitschek. O segundo durante a ditadura e o terceiro com Nosso Guia. A Ishikawajima entrou em todos.
Nas superproduções do petropetismo, construiu-se uma piada. Os japoneses venderam ao Brasil uma refinaria que não refina e o Brasil vendeu-lhe um estaleiro que não produz.
Usina de encrencas
Quando o PT pode achar que sua situação melhorou, inventa uma nova encrenca.
O presidente do diretório paulista, comissário Emídio Souza, quer ir à Justiça para apreender os cartazes de “Procurados”, com retratos de Lula e da doutora Dilma.
Grande ideia. Quem tiver uma impressora poderá fabricar seus cartazes, assim como quem tem uma panela consegue fazer barulho.
A segunda trapaça do tempo é a de que aquilo foi coisa de outra época. O ódio e a violência racial e religiosa continuam aí, expostos no cotidiano do século XXI. O Estado Islâmico, que se assenhoreou de parte do território do Iraque e da Síria, tem os ingredientes da superioridade nazista, com uma diferença: ele mata muçulmanos xiitas, judeus e cristãos. Faz isso ostensivamente e coloca filmes na rede. Um deles, “Clanging of the swords 4” (“O barulho das espadas”), com pouco mais de uma hora de duração. Coisa de profissionais, produzida há um ano. Barra pesadíssima.
Os nazistas não propagavam o que faziam. Pelas suas leis e pelos seus discursos, podia-se supor, mas não se podia ver. O Estado Islâmico usa a selvageria como instrumento de propaganda. Algo como coproduções de Heinrich Himmler, comandante da Solução Final, e de Joseph Goebbels, marqueteiro do regime. Na década de 30, havia quem tivesse uma ponta de compreensão para com os nazistas. Afinal, opunham-se aos comunistas. Hoje, esse engano pode ser alimentado, em ponto menor, pela oposição do Estado Islâmico aos Estados Unidos e a Israel.
Se há uma diferença entre 2015 e 1945, ela está no fato de que agora saiu do baralho a carta do eu-não-sabia. Só não sabe quem não quer, porque os fatos estão aí, mostrados pelo próprio Estado Islâmico.
A comédia da Sete Brasil
Depondo na CPI da Petrobras o doutor Luiz Eduardo Carneiro, presidente da Sete Brasil, informou que auditores externos não encontraram irregularidades nos contratos da empresa para a fabricação de navios e sondas para a Petrobras. Um negócio de US$ 27 bilhões. Segundo ele, Pedro Barusco e João Carlos Ferraz, que presidiu a Sete até sua chegada, em 2014, não foram “bons” executivos.
Pode-se dizer que Eike Batista, com quem Carneiro trabalhou, não foi um bom executivo porque vendeu nuvens. O caso de Barusco e Ferraz, e da própria origem da Sete, é bem outro. Barusco já confessou ter recebido US$ 100 milhões em propinas. Enquanto Carneiro falava em Brasília, Ferraz continuava negociando sua colaboração com a Viúva. Além de informações valiosas, poderá devolver algum dinheiro, quantia muito menor que a de Barusco. A essa altura, Barusco e Ferraz ajudam, Carneiro atrapalha.
O doutor assumiu a presidência da Sete há um ano. Se ele acha que faltaram à empresa “bons” executivos, de duas uma: ou não sabe onde está ou sabe e acha que pode dizer o que bem entende.
Chapa
Pelo menos um tucano assegura que o prefeito do Rio, Eduardo Paes, do PMDB, ofereceu ao PSDB a Vice-Presidência numa chapa encabeçada por ele.
Falta combinar com Geraldo Alckmin e Aécio Neves, prováveis candidatos do PSDB.
O atraso da CVM
A Comissão de Valores Mobiliários, instituição destinada a proteger os investidores, resolveu investigar a conduta do Conselho Administrativo da Petrobras. Com cinco anos de atraso, viu fumaça em suas decisões.
Tudo bem, mas a CVM poderia se perguntar porque fez sete acordos com o diretor financeiro da empresa durante o petrocomissariado. Ao longo de seis anos, o doutor pagou R$ 1,75 milhão para que não se falasse mais dos motivos que haviam levado a CVM a investigar sua conduta.
É possível que a CVM tenha sido a única xerife do mercado a fazer tantos acordos desse tipo com um diretor financeiro de uma empresa do tamanho da Petrobras. Deu no que deu.
Registro
Os integrantes do Conselho de Administração da Petrobras tinham motivos para achar que suas reuniões fossem gravadas. Os conselheiros estranhos à empresa não sabiam que estavam sendo filmados.
Pode-se entender que os vídeos tenham sido apagados, mas o banco de dados da empresa deve saber quem fez o serviço e quando.
Veneno
Um parlamentar recolheu notas de dólar com a efígie de Lula jogadas sobre o plenário da Câmara para distribuí-las, como lembrancinhas, a pedintes e flanelinhas e eleitores de Dilma.
Fachin
Ninguém pode prever o comportamento do Senado na apreciação do nome do advogado Luiz Fachin para o Supremo Tribunal.
Certamente, há ‘‘çábios’’ do Planalto acreditando que ganham a parada, assim como em janeiro acreditavam que derrotariam a candidatura de Eduardo Cunha à presidência da Câmara.
Há uma diferença entre as duas situações: contra Eduardo Cunha já não havia linha de recuo. No caso de Fachin, tanto ele como o governo podem desistir da indicação.
Terceiro tombo
Às 14h de 29 de abril, hora de Tóquio, três empresas do grupo Ishikawajima informaram ao mercado que separaram o equivalente a R$ 207 milhões para cobrir seu prejuízo no estaleiro Atlântico.
Pobre Ishikawajima. É o terceiro tombo que toma por se meter nos projetos megalomaníacos de criação de polos navais dos governos de Pindorama. Todo brasileiro com mais de 60 anos já pagou três. O primeiro com Juscelino Kubitschek. O segundo durante a ditadura e o terceiro com Nosso Guia. A Ishikawajima entrou em todos.
Nas superproduções do petropetismo, construiu-se uma piada. Os japoneses venderam ao Brasil uma refinaria que não refina e o Brasil vendeu-lhe um estaleiro que não produz.
Usina de encrencas
Quando o PT pode achar que sua situação melhorou, inventa uma nova encrenca.
O presidente do diretório paulista, comissário Emídio Souza, quer ir à Justiça para apreender os cartazes de “Procurados”, com retratos de Lula e da doutora Dilma.
Grande ideia. Quem tiver uma impressora poderá fabricar seus cartazes, assim como quem tem uma panela consegue fazer barulho.
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