terça-feira, 28 de julho de 2015
O presidente licenciado da Eletronuclar, almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, preso nesta terça-feira em nova fase da Operação Lava-Jato, teria recebido R$ 4,5 milhões em propinas pagas pelas empresas Andrade Gutierrez e Engevix, segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. Os pagamentos teriam sido realizados entre 2009 e 2014 por meio de empresas de fachada contratadas pelas empreiteiras apenas para repassar recursos ao dirigente da estatal. A Força-Tarefa disse que está apenas no início das investigações e que o caso pode ser “muito maior”, segundo o delegado federal Igor Romário de Paula. De acordo com os investigadores, um dos pagamentos direcionados a Othon ocorreu em dezembro do ano passado, dias depois da prisão de executivos de grandes empresas fornecedoras da Petrobras. Para o procurador Athayde Ribeiro Costa, integrante da Força-Tarefa da Lava-Jato, a realização de um pagamento dessa natureza em meio às investigações torna ainda mais grave a suspeita de envolvimento do dirigente da Eletronuclear. "Mais uma vez vimos que a corrupção é endêmica e os indicativos são de que ela está espalhada por vários órgãos e em metástase", disse o procurador na manhã desta terça-feira, em Curitiba, sobre a 16ª fase da Operação Lava-Jato. "A corrupção não está restrita à Petrobras, se espalhou por outros órgãos da administração pública", completou Igor Romário de Paula. O pagamento realizado em dezembro de 2014 foi realizado para a empresa Aratec Engenharia Consultoria & Representações, com sede em Barueri, no interior de São Paulo. De acordo com o registro da Receita Federal, as sócias da empresa são Ana Cristina da Silvia Toniolo e Ana Luiza Barbosa da Silva Bolognani. As duas são investigadas na operação e foram alvos de mandados de condução coercitiva na manhã desta terça-feira, para que prestem depoimento à Justiça. Para a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, Othon Luiz Pinheiro da Silva é o verdadeiro dono da Aratec. Os pagamentos a ele teriam sido realizados por meio de quatro empresas de fachada, subcontratadas pela Andrade Gutierrez e pela Engevix: CG consultoria, JNobre Engenharia, Link Projetos e Participações e Deutschebras Comercial e Engenharia. "Essas empresas são personagens novos na operação e detectamos indícios de que realmente havia repasse de propina, porque elas não tinham quadro técnico necessário para prestar serviços", afirmou Ribeiro Costa. A origem dos pagamentos ao presidente da estatal seriam um contrato da Andrade Gutierrez com a Eletronuclear, de 1983, que recebeu aditivo de R$ 1,2 bilhão, em 2009, e a licitação de Angra 3, que teria sido direcionada para sete empresas que formaram os dois consórcios vencedores da montagem da usina, entre elas a Andrade. Em 2014, os consórcios se uniram em uma única empresa, que passou a se chamar consórcio Angramon. Todos os integrantes são investigados nesta nova fase da Lava-Jato. "Houve reunião em que representantes das empreiteiras (que integram o consórcio Angramon) discutiram acerca de eventual repasse para o senhor Othon Luiz", disse Ribeiro Costa.De acordo com o Ministério Público Federal, embora a Engevix não participe do consórcio principal de Angra 3, a empresa mantém outros contratos com a estatal. "A Engevix tem alguns contratos vinculados à Eletronuclear. Também há indícios de pagamento de propina desde então", disse o procurador. Com relação a Flavio Barra, o executivo da Andrade Guttierez que foi preso, “ele foi indicado, apontado por Dalton Avancini, como o representante da Andrade Guttierez que discutia valores a respeito da propina de Angra III”, disse Ribeiro da Costa. A nova operação é baseada em informações prestadas em delação premiada pelo diretor da Camargo Corrêa Dalton Avancini. Segundo o procurador, o depoimento não foi a única fonte para ação desta terça-feira e para o pedido de prisão de Othon. "A palavra do colaborador, por si só, não leva a medidas de prisão, ainda que temporária. Nós fizemos o nosso trabalho, fizemos investigações e corroboramos em grande parte tudo que foi dito pelo Dalton Avancini. As investigações ainda continuam. E elementos ainda vão ser trazidos aos autos", afirmou Ribeiro Costa, mencionando o material apreendido nesta terça-feira nas salas dos executivos e informações de contas de e-mails, que também seriam recolhidas. Para o delegado federal Igor Romário de Paula, esta é apenas uma primeira ação focada na área de energia. "Pode parecer um valor pequeno (a propina de R$ 4,5 milhões), mas é um primeiro passo da investigação na área de energia. Tem muito ainda a ser apurado", afirmou. Embora o único político alvo desta nova fase seja o presidente licenciado da Eletronuclear, o delegado acredita que, com a avanço das investigações, pode-se chegar a novos nomes vinculados a partidos. Igor disse ainda que há mais indícios de corrupção a apurar no setor de energia, “e isso ficou mais concreto com o Dalton, que trouxe muita documentação a respeito da participação da Camargo Corrêa neste consórcio, no acerto de preços”. "Não estão exauridos todos os contratos da Angramon, então isso pode ser muito maior", declarou o delegado.
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