terça-feira, 28 de julho de 2015

ANÁLISE, IGOR GIELOW, FOLHA - OPERAÇÃO ELETROLÃO ASSUSTA MEIOS POLÍTICOS EM BRASÍLIA


- Igor Gielow é diretor da sucursal da 
Folha de S. Paulo em Brasília.

A nova fase da Operação Lava Jato, desta vez comedidamente nomeada Radioatividade, dispara enfim o chamado eletrolão, motivo para diversas dores de cabeça preventivas em Brasília.
Insinuado desde o começo da operação da PF em 2014 e dado como inevitável após a delação premiada do executivo Dalton Avancini, ex-presidente da Camargo Corrêa, o eletrolão ainda precisa ser destrinchado pelos investigadores.
Mas amplia consideravelmente o potencial de a Lava Jato cumprir sua vocação de sanear diversos aspectos dos negócios entre público e privado no Brasil. Os responsáveis pela Lava Jato sempre falaram na "metástase" da corrupção em diversos setores, mas agora parecem chegar perto dos tumores em si.
No meio político, o temor é evidente. O setor elétrico tem personagens conhecidos, todos eles muito próximos de figuras graúdas do PT e PMDB. Mais ainda, era a área por excelência de Dilma Rousseff, que conduziu o Ministério das Minas e Energia com mão de ferro até assumir a Casa Civil e ser catapultada à Presidência por obra de Luiz Inácio Lula da Silva.
Não há nada até aqui envolvendo a presidente, mas o fato de os olhos da Lava Jato se aproximarem deste seu antigo feudo causa desconforto no governo.
Além disso, a apuração sobre Angra 3 é só um começo. Investigadores querem puxar fios correlatos que levem a outros negócios bilionários com os protagonistas da Lava Jato.
SUBMARINOS
Um dos pontos que podem ser escrutinados é especialmente sensível: o programa de submarinos da Marinha.
Em 2009, como parte do maior acordo militar já assinado pelo Brasil, os franceses ganharam o direito de substituir os alemães na longa parceria de construção das embarcações.
O tíquete para a vitória foi a promessa de capacitar o Brasil a fazer um submarino nuclear nos anos 2020, fetiche de qualquer almirante. O preço foi trocar os confiáveis submarinos convencionais alemães pelos modelos diesel-elétricos franceses da classe Scorpène. O custo: astronômicos 6,7 bilhões de euros (à época algo como R$ 18 bilhões; em valores nominais de hoje, cerca de R$ 24 bilhões), a serem financiados por duas décadas.
A maior polêmica do contrato, contudo, dizia respeito à construção de um novo estaleiro no Rio para os submarinos. A obra foi subcontratada diretamente pelos franceses pela fatia considerável de 1,7 bilhão de euros para a Odebrecht, sem licitação.
Concorrentes sempre questionaram a escolha da empreiteira —a participação de uma sócia nacional era exigência brasileira. O negócio deu fôlego para a Odebrecht criar sua divisão de defesa e segurança e buscar diversificar suas frentes de atuação.
Basta nomear os atores em cena para entender o interesse dos investigadores. O acordo militar Brasil-França foi uma das meninas dos olhos do segundo e apoteótico mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, e protegido pelas regulamentares cláusulas de soberania nacional.
Não ajuda muito o fato de a DCNS, a empresa francesa responsável pelo negócio, ter um longo currículo de acusação de pagamento de propinas e outras suspeitas em negócios com os mesmo submarinos Scorpène na Índia e Malásia, além de um escândalo bilionário na venda de navios para Taiwan.
Os franceses, controlados pelo Estado, sempre negaram irregularidades e, no Brasil, não foram alvo de nada além de fofocas de concorrentes nos bastidores. 

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