domingo, 22 de fevereiro de 2015

Força-tarefa da Lava Jato caça o misterioso doleiro que guarda o dinheiro do petrolão


O suíço-brasileiro Bernardo Freiburghaus, que deixou o Brasil no ano passado, opera as contas do esquema em paraísos fiscais

THIAGO BRONZATTO E MURILO RAMOS
20/02/2015 21h57


No dia 29 de outubro de 2014, o suíço-brasileiro Bernardo Freiburghaus apresentou à Receita Federal uma declaração de saída, documento exigido de todos aqueles que desejam deixar o Brasil ou se ausentar por mais de 12 meses. Não declinou seu novo endereço, como outros fazem em sua situação. Conforme a Receita informou à força-tarefa do Ministério Público Federal que investiga o petrolão, Freiburghaus indicou apenas uma conta-corrente com cerca de 50 mil francos-suíços, depositados no banco Julius Baer, na Suíça. Freiburghaus tem residência lá. Faltavam poucos dias para a etapa mais importante da Lava Jato, batizada de Juízo Final. Enquanto grandes empreiteiros seguiam para o xadrez, Freiburghaus desaparecia no mundo. Segundo os investigadores, deixara o Brasil em junho.
 
ELO O suíço Bernardo Freiburghaus. Em depoimentos como o de Paulo Roberto Costa, ele é apontado como doleiro do esquema (Foto: reprodução)
No começo de novembro, os investigadores já sabiam que Freiburghaus era o grande doleiro dos principais operadores do petrolão. Seus clientes incluíam executivos da Petrobras, como os delatores Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco; lobistas envolvidos no esquema; e empreiteiras, sobretudo a Odebrecht. Freiburghaus atua desde os anos 1990 no mercado negro dos bancos suíços. Especializou-se em clientes cariocas. Para minimizar os riscos de ser descoberto pelas autoridades brasileiras e suíças, usava múltiplos bancos – e, de tempos em tempos, remanejava o dinheiro dos clientes para novas contas secretas. Tinha contato direto com os gerentes dos  bancos. Usava uma brasileira de sua confiança, fluente em várias línguas, para se comunicar por e-mail com alguns desses bancos. A força-tarefa do petrolão está à caça dele: há um mandado judicial para que ele fale. Se Freiburghaus colaborar, os investigadores chegarão mais rápido à origem do dinheiro sujo que ele, segundo as provas do caso, repassava aos operadores do esquema. A origem – quem pagava – está nas fornecedoras da Petrobras, sejam empreiteiras ou multinacionais do petróleo.
Segundo os depoimentos da delação premiada de Paulo Roberto Costa, Freiburghaus abrira uma conta no mesmo banco suíço Julius Baer para depositar parte do dinheiro da propina, US$ 5,6 milhões, paga pela Odebrecht. Costa disse que Freiburghaus fora orientado pelo ex-diretor da Odebrecht Rogério Araújo. Ele temia que o dinheiro destinado a Costa transitasse pelas mãos gananciosas de políticos.
Desde o começo do caso, a Odebrecht nega qualquer ilegalidade. Em nota, a empreiteira e Rogério Araújo “negam ter feito, intermediado ou mandado fazer qualquer pagamento ilegal a Paulo Roberto Costa e reiteram que não se manifestam sobre a fala suspeita e interessada de réus confessos, que buscam se favorecer dos benefícios da delação premiada”.
O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, que assumiu em sua delação ter desviado mais de R$ 100 milhões da Petrobras, também afirmou ter usado o Julius Baer para transferir dinheiro para uma offshore no Canadá. Sócio de Freiburghaus e contador da Diagonal Investimentos, empresa de fachada que já foi vasculhada pela Polícia Federal no Rio de Janeiro, Marcos Heronides, que possui uma sorveteria no subúrbio carioca de Duque de Caxias, disse a ÉPOCA que o doleiro está na Suíça.
Freiburghaus não gosta apenas de sorvete. Ele é dono de um apartamento avaliado em R$ 3 milhões na Lagoa Rodrigo de Freitas e costumava frequentar o Gávea Golfe Clube. Investe fora do Brasil. Em Portugal, por exemplo, ele fez um investimento imobiliário de quase e 2 milhões no ano passado. Numa sociedade com o advogado português Antonio Manuel Raposo Subtil, Freiburghaus comprou imóveis em Lisboa. “Eu não sabia que Freiburghaus tinha empresa no Brasil ou que estava envolvido em algum escândalo. Fui sócio dele, porque nosso escritório costuma abrir empresas em nome de nossos clientes estrangeiros”, diz Subtil, que afirma ter conhecido Freiburghaus numa feira imobiliária em Portugal.
Entre os que temem as possíveis revelações de Freiburghaus está a construtora Odebrecht. Preocupados com a colaboração da Suíça com a força-tarefa do petrolão, advogados da empreiteira estiveram com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para pedir informações sobre dados bancários enviados  recentemente pelos suíços. A Odebrecht alega que os procuradores brasileiros, que já estiveram na Suíça e viram algumas das contas do petrolão, deveriam ter esperado a chegada formal dos documentos ao Brasil. A Odebrecht ainda não é oficialmente investigada, mas já quer anular quaisquer dados oriundos da Suíça.
A caça da força-tarefa a Freiburghaus se intensificará. Se ele for achado, a lista do petrolão ganhará alguns zeros.

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