domingo, 20 de abril de 2014

PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA O Eleitor no Observatório


CARLOS VIEIRA
Heleno tem 25 anos. Advogado, recém-aprovado em concurso para Juiz, salário decente, oriundo de uma família de classe média. Seus irmãos são três, sua mãe se restringe aos afazeres do lar, e seu pai acabou de se aposentar pelo INSS com um salário de um mil e trezentos reais. Moram numa cidade-satélite, ele Heleno, brasiliense e seus pais, candangos vindos do interior de São Paulo.

Heleno vive a angústia de um jovem num país em crise e sem projetos de futuro. Sabe que o nosso Brasil há anos é governado por homens políticos desprovidos em sua maioria, de uma noção de Política como um compromisso social. A Política ainda hoje, século XXI vem sendo a arte, ou a astucia de criar benefícios eleitoreiros e engordar a riqueza daqueles que nós elegemos. Culpados de nós, alienados, seduzidos por promessas fantásticas em véspera de eleições; classe média perdida, desinteressada, visando uma vida individualista, num mundo de concepção consumista. Culpados os responsáveis pela Educação nas escolas e universidades, onde jamais ensinam matérias de politização; culpados os representantes do Governo que a cada dia nos enganam com cálculos, índices, projeções de crescimento, promessas de aplicação do dinheiro do “pré-sal” que ainda continua no útero oceânico; culpados homens do Judiciário que não criam na população um sentimento consistente de justiça individual e grupal; culpados principalmente os homens do Congresso Nacional, mais preocupados com as vantagens partidárias e de trocas de partidos para benefícios próprios; culpadas as famílias, claro, muitas delas, que perderam um senso de ética na educação dos seus filhos.

E o nosso Heleno, jovem advogado, atônito, perdido, sem referência partidária, vive a angústia da responsabilidade de votar. Votar em quem, em qual partido, se programas não existem que determinem mudanças? Reforma Política, Tributária, da Previdência Social, enfim, reformas que criem melhoria para vida digna e justa à população.

Heleno conversa com seus amigos e continua a viver seu desconforto interno. Onde estão as lideranças estudantis, as reuniões e congressos para pensar o Pais, a preocupação de homens idôneos em criarem um fórum para refletir sobre o nosso Brasil? Por mais pessimista que parece minha escrita, vivemos num caos, num clima de descrença, povoado de insegurança, homicídios diários, atos de vândalos quebrando o patrimônio público e privado! Vivemos um momento em que é preciso e necessário que se faça alguma coisa, e não “promessas salvadoras emitidas por homens e partidos! Escândalos por todos os lados, atos de corrupção no passado e no presente, predominância de uma “burocracia de gestões burocráticas”, e não de programas de governo que ultrapassem os interesses de eleições e reeleições! 

Heleno, Heleno, que sua insônia ou seus sonhos elaborem decisões éticas e respeitosas na hora da urna.

E se o Brasil ganhar a Copa do Mundo? Tudo que qualquer torcedor almeja, mas com o cuidado da vitória não ser usada para faturar votos imorais em candidatos perversos! Futebol, carnaval e samba, às vezes são realizações de fantasias para acalentarem uma “depressão histórica” do banzo dos nossos ancestrais africanos. O Brasil hoje se divide em duas classes: uma que vive uma fantasia maníaca de um bem-estar ilusório, produto de lucros dos roubos e corrupções, e outra classe onde a incidência da depressão, a cada dia povoa os consultórios psiquiátricos e analíticos.

“Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus./ Tempo de absoluta depuração./ Tempo em que não se diz mais: meu amor./ Porque o amor resultou inútil./ E os olhos não choram./ E as mãos tecem o rude trabalho./ E o coração está seco.” (fragmentos dos versos do poeta em seu poema:”Os ombros suportam o mundo”.

Versos do nosso querido Drummond, versos que podem ser lidos pensando na falta de amor dos “Homens Públicos” pela população!

Em outro poema, do Carlos, gauche de Itabira, “Congresso Internacional do Medo”, poema de 1940, está escrito:” Provisoriamente não cantaremos o amor./que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos./ Cantaremos o medo, que esteriliza dos abraços...”

E agora Heleno, quando a noite cair e o sono estiver anunciando seu descanso, vamos deixar de lado o ódio, o ressentimento, a vingança, a violência, a inveja, a voracidade canibalística da sociedade pós-moderna e cantar o Amor!
Carlos de Almeida Vieira - psicanalista e psiquiatra.

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