quarta-feira, 30 de julho de 2014

O quanto pode uma ex, por Zuenir Ventura

POLÍTICA


 Zuenir Ventura, O Globo
O deputado federal Rodrigo Bethlem, às voltas com um considerável escândalo, parece que não deu importância ao que já foi dito e escrito muitas vezes — que a moral e os bons costumes políticos devem muito a ex-mulheres, graças às quais alguns malfeitos foram conhecidos depois de terminado o casamento.
O folclore sobre o tema criou até máximas: “Ex-mulher é para sempre.” “Político não deve se separar.” “A pior vingança é a de uma ex contrariada.” Há diversos exemplos, como o que ocorreu em 2000, quando Nicéa, mulher por 30 anos do então prefeito de São Paulo, Celso Pitta, denunciou-o em represália a um processo de separação litigiosa movido por ele.
Ela foi à televisão e o acusou de ter distribuído fortunas aos vereadores para encerrarem uma CPI. Outro caso famoso foi o dos quatro auditores paulistas acusados de desvios de R$ 500 milhões. A ex de um deles escancarou em entrevistas a vida de dissipação que levavam com o dinheiro das propinas. Segundo ela, ele não tinha vergonha de dizer: “Ah, eu roubo mesmo.”
A ex da vez é a bela Vanessa Felippe, filha do presidente da Câmara de Vereadores do Rio e que, aos 22 anos, em 1994, foi eleita a mais jovem deputada federal pelo PSDB. Em 2011, ela gravou escondido uma conversa de horas com o ex-marido, guardou as explosivas fitas e há pouco resolveu entregá-las à revista “Época”.
Ao saber disso, o advogado de Bethlem apressou-se em fornecer à redação um atestado médico e uma declaração em que Vanessa voltava atrás e declarava sofrer de problemas psiquiátricos. A intenção da pressurosa operação era evidentemente tentar desqualificar as acusações de corrupção, um recurso comum em casos assim, quando é difícil desmentir testemunhas.
A questão, porém, é que as revelações que o incriminam são feitas por ele, não por ela. É Bethlem quem diz: “Você está careca de saber que fui à Suíça abrir uma conta. Não seja hipócrita.”
É ele também quem confessa em outro trecho quanto embolsava por mês do convênio entre uma ONG e a Secretaria municipal de Assistência Social, da qual era titular: “Em torno de R$ 65 mil, 70 mil”, ele informa à ex-mulher.
O mais curioso é que, em nenhum momento, ele sugere ou insinua que ela estivesse com algum transtorno de personalidade. Ao contrário, quem confessa andar “paranoico” é ele, quando ela pergunta por que estava falando tão baixo ao revelar que seus rendimentos eram de R$ 100 mil por mês. Ele então explica que anda preocupado com a possibilidade de estar sendo grampeado por algum “inimigo”.
Não imaginava que o “inimigo” estava ao lado. 

Deputado federal Rodrigo Bethlem (PMDB / RJ) - Foto: Mauro Pimentel / Terra 

Zuenir Ventura é jornalista

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