CARLOS VIEIRA
A Copa do Mundo começou. Um dos maiores, senão o maior evento que reúne nações do mundo inteiro para celebrar, através do Futebol, momentos de parcerias, de humanidade, de civilidade e principalmente de amor universal. A Copa é uma brincadeira, brincadeira gostosa, carreia famílias aos estádios, juntas as diversas línguas numa só linguagem – o amor pelo futebol e a oportunidade de trocar experiências multinacionais. É lindo ver os estádios lotados, a belíssima Ola, a criança pequena no colo da mãe, o namorado que beija a namorada, e até alguns deles que pedem as moças em noivado ou se casam. A Copa é a performance dos jogadores, seus dribles, suas improvisações, seus modos especiais de comemorar o gol, seu ímpeto feito um corcel a correr em direção à pelota. Seus gestos ríspidos, violentos para tomar a bola, mas sua atitude afetiva de pedir desculpas, até de passar a mão na cabeça do adversário quando do erro. A Copa é um momento social, só não é mais social pois a dita nova classe média desse país e o povo não têm direito a entrar nos estádios – o privilégio ficou para a classe dominante, convidados especiais, e convidados afilhados de pessoas dos poderes instituídos da Nação. Aliás, o maior sortudo é a FIFA, que está faturando bilhões sem pagar impostos. Esquisito isso, não! O Fisco libera o dinheiro pago com nosso dinheiro. Aos pobre, armaram-se telões, inclusive longe dos estádios, pois o povo é sempre confundido com as “bestas selvagens”, que podem mostrar uma imagem de um Brasil que o Governo e a FIFA fazem questão de esconder, de maquiar. Há protestos sim, têm que haver, principalmente nesses momentos em que o mundo está olhando para nosso país emergente. Há violência, também. Violência de vândalos e dos policiais, atos que merecem ser punidos tanto pelo polícia educada como pelas Corregedorias das organizações militares.
Belo exemplo de um pai que ao ver seu filho mascarado, fazendo arruaça, participando de facções violentas, disse: “filho não é essa a educação que dou. Caso queira transgredir a lei, mostre sua cara, assuma seus atos de vandalismos”. Convenceu seu querido filho a sair da manifestação, levou-o para casa, e mais tarde as televisões mostravam um “ato de amor e respeito” por um projeto de vândalo. Oxalá a Policia tivesse a sensibilidade desse pai, pois eles policiais também são pais. Nesse país não existe polícia preventiva nessas horas, o que existe são comportamentos violentos institucionalizados.
No entanto, prezado leitor, estamos de parabéns. Nosso povo está sabendo receber, agradar, ser generoso, alegre, cooperativo e principalmente respeitoso com povos do mundo que aqui estão. Nos estádios, claro, quando o Brasil não joga, as pessoas se infiltram e até vestem camisas de outros países num gesto amoroso para comemorar e torcer, porque não? Hasta nuestros hermanos argentinos lotaram o Maracanã e se comportaram muito bem realizando uma bela partida sem violência, coisa rara neles.
E a nossa seleção, que dizer até agora, ainda que um jogo só? Vários aspectos merecem ser homenageados. Se iremos ganhar a Copa, isso é outro assunto, mas temos uma equipe muito boa: rapazes jovens, educados, afetivos uns com os outros sempre numa atitude grupal de muita coesão, incentivo e crença. O time não tem estrelas, ainda que Neymar brilhe. O time é um time de jogadores bons, pessoas de bom caráter, corajosos, tolerantes à frustação no momento de um gol contra, obedientes ao Professor Scolari, respeitando os erros dos colegas e, principalmente jogadores que mostram a cara de uma felicidade em jogar. Longe de esnobismo, narcisismos patológicos, violência desnecessária, cantando o hino nacional com uma atitude que pouco se vê nesse Brasil – a noção de brasilidade, de pátria, de respeito à bandeira e de emoções e lágrimas estão dando ao povo uma alegria esperada. Uma bela equipe que cada um sabe seu lugar, sabe colaborar com o parceiro, e sabe respeitá-lo mesmo nos erros. Nosso país anda triste, precisamos de uma alegria, ainda que seja por um mês.
Há dias, nesse clima de copa do mundo, foi procurar uma crônica de Lima Barreto, escrita em 1919. Não irei transcreve-la toda, mas vale a pena ler um trecho da escrita, num estilo de prosa poética, daquele que foi um dos mais importantes escritores do início do Sec. XX. A crônica chama-se “Uma partida de Football.
“Das coisas elegantes que as elegâncias cariocas podem fornecer ao observador imparcial, não há nenhuma como uma partida de football.
É um espetáculo da maior delicadeza em que a alta e a baixa sociedade cariocas revelam a sua cultura e educação. Num círculo romano, com imperadores, retiários, vestais e outros sacerdotes e sacerdotisas, não se poderiam presenciar aspectos tão interessantes, coisas tão inéditas como as nossas arenas de jogo dos pontapés na bola..”
Pois então, prezado leitor, curtamos a Copa do Mundo, nesse Brasil, ainda que despreparado e carente de outros projetos mais urgentes. Deixemos de lado, pelo menos por algum tempo, a urgência e emergência dos problemas sociais a serem debatidos provavelmente na próxima campanha eleitoral. Aí sim, vamos nos manifestar, vamos unir as pessoas para jogarem o jogo maior – a escolha dos nossos representantes. Nunca nesse país está sendo preciso ter muito cuidado, consciência política, capacidade de discriminar os bons candidatos dos falsos profetas, aliás, maioria nesse momento. Caso nossa Seleção ganhe o Hexa, o que será fantástico para todos nós, é preciso não entrarmos numa euforia, provavelmente inoculada pelos Políticos, de que tudo está ótimo e somos o país do futuro. Não, a copa do mundo é uma coisa; o compromisso de campanha e a expectativa de que teremos candidatos éticos, verdadeiros, honestos, comprometidos com o bem social, é outra.
Por enquanto vamos torcer pelo nosso time, por nós próprios, pelos países que aqui estão e merecem, e para que o Brasil seja campeão no Football, como escreve nosso Lima Barreto.
Belo exemplo de um pai que ao ver seu filho mascarado, fazendo arruaça, participando de facções violentas, disse: “filho não é essa a educação que dou. Caso queira transgredir a lei, mostre sua cara, assuma seus atos de vandalismos”. Convenceu seu querido filho a sair da manifestação, levou-o para casa, e mais tarde as televisões mostravam um “ato de amor e respeito” por um projeto de vândalo. Oxalá a Policia tivesse a sensibilidade desse pai, pois eles policiais também são pais. Nesse país não existe polícia preventiva nessas horas, o que existe são comportamentos violentos institucionalizados.
No entanto, prezado leitor, estamos de parabéns. Nosso povo está sabendo receber, agradar, ser generoso, alegre, cooperativo e principalmente respeitoso com povos do mundo que aqui estão. Nos estádios, claro, quando o Brasil não joga, as pessoas se infiltram e até vestem camisas de outros países num gesto amoroso para comemorar e torcer, porque não? Hasta nuestros hermanos argentinos lotaram o Maracanã e se comportaram muito bem realizando uma bela partida sem violência, coisa rara neles.
E a nossa seleção, que dizer até agora, ainda que um jogo só? Vários aspectos merecem ser homenageados. Se iremos ganhar a Copa, isso é outro assunto, mas temos uma equipe muito boa: rapazes jovens, educados, afetivos uns com os outros sempre numa atitude grupal de muita coesão, incentivo e crença. O time não tem estrelas, ainda que Neymar brilhe. O time é um time de jogadores bons, pessoas de bom caráter, corajosos, tolerantes à frustação no momento de um gol contra, obedientes ao Professor Scolari, respeitando os erros dos colegas e, principalmente jogadores que mostram a cara de uma felicidade em jogar. Longe de esnobismo, narcisismos patológicos, violência desnecessária, cantando o hino nacional com uma atitude que pouco se vê nesse Brasil – a noção de brasilidade, de pátria, de respeito à bandeira e de emoções e lágrimas estão dando ao povo uma alegria esperada. Uma bela equipe que cada um sabe seu lugar, sabe colaborar com o parceiro, e sabe respeitá-lo mesmo nos erros. Nosso país anda triste, precisamos de uma alegria, ainda que seja por um mês.
Há dias, nesse clima de copa do mundo, foi procurar uma crônica de Lima Barreto, escrita em 1919. Não irei transcreve-la toda, mas vale a pena ler um trecho da escrita, num estilo de prosa poética, daquele que foi um dos mais importantes escritores do início do Sec. XX. A crônica chama-se “Uma partida de Football.
“Das coisas elegantes que as elegâncias cariocas podem fornecer ao observador imparcial, não há nenhuma como uma partida de football.
É um espetáculo da maior delicadeza em que a alta e a baixa sociedade cariocas revelam a sua cultura e educação. Num círculo romano, com imperadores, retiários, vestais e outros sacerdotes e sacerdotisas, não se poderiam presenciar aspectos tão interessantes, coisas tão inéditas como as nossas arenas de jogo dos pontapés na bola..”
Pois então, prezado leitor, curtamos a Copa do Mundo, nesse Brasil, ainda que despreparado e carente de outros projetos mais urgentes. Deixemos de lado, pelo menos por algum tempo, a urgência e emergência dos problemas sociais a serem debatidos provavelmente na próxima campanha eleitoral. Aí sim, vamos nos manifestar, vamos unir as pessoas para jogarem o jogo maior – a escolha dos nossos representantes. Nunca nesse país está sendo preciso ter muito cuidado, consciência política, capacidade de discriminar os bons candidatos dos falsos profetas, aliás, maioria nesse momento. Caso nossa Seleção ganhe o Hexa, o que será fantástico para todos nós, é preciso não entrarmos numa euforia, provavelmente inoculada pelos Políticos, de que tudo está ótimo e somos o país do futuro. Não, a copa do mundo é uma coisa; o compromisso de campanha e a expectativa de que teremos candidatos éticos, verdadeiros, honestos, comprometidos com o bem social, é outra.
Por enquanto vamos torcer pelo nosso time, por nós próprios, pelos países que aqui estão e merecem, e para que o Brasil seja campeão no Football, como escreve nosso Lima Barreto.
Carlos de Almeida Vieira - psicanalista e psiquiatra
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