domingo, 8 de junho de 2014

CAMPANHA ATUAL FECHA CICLO DE 64



Gaudêncio Torquato
A campanha eleitoral só pode chegar às ruas em 6 de julho, mas já começou. Basta ver a agenda dos três principais candidatos, em que o destaque é a oratória de palanque, com acusações recíprocas, defesas e promessas.
Por que a eleição deste ano assume posição de destaque na série histórica das disputas? Pelo fato de o Brasil se aproximar de uma encruzilhada, tendo de decidir se continuará a seguir em frente, à direita ou à esquerda. As direções dizem menos respeito às linhas do arco ideológico e mais às de busca de alternativas. A par das mudanças clamadas pela sociedade e confirmadas por pesquisas, que se imporão a qualquer vitorioso(a) no pleito, trata-se, ainda, de abrir horizontes na radiografia hegemônica do poder, dando chance a novos atores, avançando sobre a desgastada polarização PT-PSDB e oxigenando os pulmões da política.
A campanha deste ano agrega forte diferencial pelo fato de reunir três perfis competitivos, cada qual, a seu modo, procurando interpretar as demandas de uma comunidade mais exigente, ativa e participativa. Nunca se ouviu tanto o eco das ruas como neste momento. Ainda a pontuar diferenças, o pleito contará, pela primeira vez, com uma classe média majoritária, que perfaz 53% da população.
Por último, o destaque de que a contenda fecha o ciclo de 1964. Os pesados anos de chumbo redefiniram os rumos da política, fazendo nascer partidos, formando grupos, multiplicando alas e dando margem à diástole que propiciou a abertura dos horizontes democráticos. Fernando Henrique, José Serra, Luiz Inácio e Dilma, entre outros, fazem a ponte entre o ontem e o hoje. Mas é forte o clamor para que o país descortine uma nova era, dando vez ao grupo pós-64.
ESTRATÉGIA DO MEDO
Por isso mesmo, a batalha se cerca de inusitado preparo, com o uso antecipado de ferramentas. O medo torna-se arma de guerra.
Entre nós, a estratégia do medo bate nos fundões sob os braços do assistencialismo. Acontece que a estratégia do terror foi banalizada, já não finca raízes profundas. A população, mesmo a das margens, parece vacinada contra a artilharia psicológica adotada em guerras eleitorais. Será difícil convencer comunidades de que um programa como o Bolsa Família, por exemplo, será extinto. Tornou-se política de Estado. E é pouco provável que temas abstratos – privatização da Petrobras, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica – sejam palatáveis aos sentidos das massas.
Os governantes, é oportuno lembrar, têm a vantagem do “poder da caneta” para dar crédito às promessas. Mesmo assim, a credibilidade do discurso palanqueiro perde força.
Infere-se, portanto, que as firulas nos campos eleitorais não derrubam jogadores. A esperança, essa, sim, é o xis da questão. O Brasil esperançoso é o do crescimento, da harmonia, da segurança, do trabalho. Que candidato veste melhor esse figurino? Quem fará as mudanças que todos clamam? Abraham Lincoln dizia que “demagogia é a capacidade de vestir ideias menores com as palavras maiores”. Quem tem coragem de arriscar?

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