Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa -
1.5.2014
| 12h00m
O Oceano Indico banha uma cidade onde ainda se fala português, na qual algumas ruas têm nomes muito nossos conhecidos, como rua Direita, rua dos Leilões, onde algumas famílias atendem pelo nome de Mascarenhas, Souza, Gama ou Albuquerque. O português é a terceira língua falada em Goa e não é obrigatório nos currículos escolares, mas ainda é estudado em muitas escolas e falado por famílias de ascendência portuguesa.
Se você tem o mapa da Índia na memória, fica fácil imaginar onde Vasco da Gama foi parar lá por 1500. Fica longe, muito longe de Portugal e da Torre de Belém que o Tejo namora. Mas nossos navegadores, inspirados e instigados pelo príncipe d. Henrique de Avis, cognominado O Navegador, foram parar em mares nunca dantes navegados, em terras onde Portugal fincou sua bandeira, espalhou sua língua, sua religião e seus costumes.
Tenho a impressão que nós, brasileiros, não damos a devida importância a esses gigantes da Humanidade, os desbravadores dos mares. É pena. Somos tolos e ingratos, mas isso só nos diminui...
Volto a Goa. Em 1543 os portugueses já dominavam várias regiões no entorno de Goa. No final do século 16 essa área estava tão rica que recebeu o nome de Goa de Ouro. E toda essa região era ocupada pelos portugueses.
De Goa partiram grandes vultos para o apostolado cristão no Oriente, como São Francisco Xavier e São João de Brito. Em Goa, os portugueses ergueram igrejas e escolas e liceus. E foi em Goa que Camões e Bocage escreveram parte de suas obras.
A Companhia de Jesus chegou a Goa em 1542. São Francisco Xavier e seus companheiros jesuitas encontraram ali uma pequena capela que reformaram para nela instalar um colégio-seminário (Colégio São Paulo) destinado à formação de clérigos indianos e uma escola de medicina. Hoje, desse colégio, só resta o portal.
Em 1594 os jesuitas decidiram ampliar seu seminário, assim como a escola apostólica e a escola de medicina. Para isso precisavam de mais espaço. Começaram então a construir a bela Igreja do Bom Jesus. Em um de seus pilares podemos ler a inscrição: "Construção iniciada em 24 de novembro de 1594. Consagrada em 15 de maio de 1605".
A planta obedece ao desenho da Chiesa del Gesù, em Roma, e como nessa impressionante igreja, o monograma IHS é proeminente em sua elegante fachada barroca (detalhe acima, visto do Cruzeiro). Entre as duas, a del Gesù romana e a basílica em Goa, há apenas dez anos de diferença.
A fachada, em granito, obedece a estilos diferentes num conjunto muito harmonioso com quase 19 m de altura. O altar-mor apoiado em colunas de basalto, mede 16m x 9m. A nave é muito bem iluminada e seu interior inspira o silêncio.
Ao contrário de informação largamente difundida, a Basílica não foi construída para receber o corpo de São Francisco Xavier. O santo faleceu numa viagem missionária a caminho da China, em 1552. Em 1553 foi levado para o pequeno Colégio São Paulo, aquele primeiro noviciado fundado por ele em Goa. Foi somente em 1624 que seu corpo, num sarcófago em prata lavrada, foi transferido para a Igreja do Bom Jesus.
Mas foi em 1698 que o mausoleú onde repousa o santo tomou sua forma definitiva, graças a Cosme III, grão duque da Toscana, que enviou o mármore e os artistas de sua escolha para erguer o monumento que pode ser visto dentro da Basílica do Bom Jesus (abaixo).
Mas nem tudo correu sem percalços. Quando o Marquês de Pombal, em sua luta contra a influência da Igreja Católica expulsou os jesuítas de Portugal, aos de Goa foi ordenado que regressassem a Portugal, o que aconteceu em 1760. Em 1773 a Companhia de Jesus foi extinta pelo Papa Clemente XIV. Em 1814 o Papa Pio VII restaurou a Ordem mas eles só foram autorizados a voltar a Goa em 1933.
Em 1952, no 400º aniversário da morte do santo, o cortejo de peregrinos foi de tal ordem que o Patriarca de Goa decidiu que não era mais possível permitir que o caixão em prata fosse aberto para que os restos mortais do santo fossem vistos. O caixão de prata recebeu uma urna em cristal que não pode ser aberta.
Em 1956 a Companhia de Jesus recuperou seus bens em Goa, a Igreja do Bom Jesus inclusive. À importância nacional e internacional das peregrinações, com cada vez mais fieis buscando rezar junto ao mausoléu, o Papa Pio XII se rendeu e elevou a igreja a Basílica do Bom Jesus.
Abaixo, o conjunto formado pela Basílica e pela Casa Pastoral dos Jesuítas, uma das heranças portuguesas muito bem conservadas em Goa.
Basílica do Bom Jesus, Goa, Índia
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