sexta-feira, 2 de maio de 2014

DIA DO TRABALHO - Ato da Força Sindical foi palco para a oposição


O GLOBO: Sérgio Roxo, Lino Rodrigues e Renato Onofre
Aécio e Campos criticam Dilma em ato da Força Sindical e petistas são vaiados no da CUT
SÃO PAULO - O pacote de bondades anunciado na véspera pela presidente Dilma Rousseff em cadeia de rádio e TV não foi suficiente para aplacar o clima de animosidade contra o governo nas festas do Dia de Trabalho da Força Sindical e da CUT realizadas ontem em São Paulo. Chamados para discursar no intervalo entre shows musicais, petistas e ministros foram vaiados nos dois eventos.
Na comemoração da CUT, o público chegou a impedir a realização do ato político ao atirar objetos no palco. Já a festa da Força Sindical, como era esperado, se transformou em palanque para os dois pré-candidatos presidenciais de oposição: Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).
Incitados pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (Solidariedade-SP), presidente licenciado da central sindical e anfitrião do evento, parte do público que esteve na Praça Campo de Bagatelle, na Zona Norte da cidade, vaiou o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, quando ele discursou e defendeu o governo Dilma, ao falar sobre a valorização de 70% do salário mínimo. Ele também disse que a candidatura de Aécio é uma tentativa de trazer o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso de volta e que os tucanos tentam desvalorizar a Petrobras para privatizar a empresa.
— Pode vaiar. A vaia é parte da democracia — respondeu Carvalho, diante das manifestações do público.
Minutos antes, ao lado de Aécio, Paulinho, que já anunciou apoio ao candidato do PSDB, disse que a presidente tem coragem de falar na TV, mas manda "subalternos" para encontro com trabalhadores. O deputado também incentivou o público a fazer o gesto da banana para a presidente a afirmou que ela deveria ir para o presídio da Papuda, em Brasília, onde estão detidos petistas condenados pelo mensalão.
— Temos uma corrupção desenfreada. O governo que deveria dar exemplo está atolado na corrupção. É o governo que, se fizer o que a presidente Dilma falou ontem (quarta), quem vai parar na Papuda é ela — discursou Paulinho, na festa que reuniu, segundo a polícia militar, 250 mil pessoas ao longo de todo o dia.
Na cadeia de rádio e televisão, Dilma, além de anunciar aumento de 10% no valor do benefício do Bolsa Família e reajuste de 4,5% na tabela do Imposto de Renda, disse que o seu governo impõe um "combate incessante e implacável da corrupção".
Ao discursar, o ministro do Trabalho, Manoel Dias (PDT), rebateu a atitude de Paulinho e saiu em defesa de Dilma.
— Essa reunião não é para ofender ninguém. Eu quero contestar o meu amigo Paulinho. Ele não precisava ofender a presidente.
Ao descer do palco, Gilberto Carvalho minimizou a vaia que levou.
— Eu não vou comentar sobre o Paulinho da Força. Eu respeito os trabalhadores da Força Sindical. Prefiro me relacionar com eles — falou o ministro, que criticou o presidenciável tucano: — O Aécio veio como convidado próprio de um oportunismo de eleição. Eles só aparecem a cada quatro anos. O problema é que, quando eles governaram, o salário mínimo ficou rebaixado. O problema é que quando eles governaram nós tínhamos um processo de desemprego alto. O presidente deles chamava os aposentados de vagabundos.
Antes, Aécio havia atacado Dilma durante os dois minutos em que discursou. No único momento em que foi aplaudido, disse que a presidente preferiu ficar reclusa em casa do que dialogar com os trabalhadores.
— O Brasil precisa de trabalho e de decência. E é por isso que estamos aqui. Porque a presidente foi à televisão falando que quer dialogar com a classe trabalhadora, mas hoje está fechada no palácio. E, hoje, não vem aqui para olhar para vocês e explicar porque a inflação voltou, porque o crescimento sumiu e porque a decência anda em falta no atual governo.
Em entrevista, na saída do evento, o tucano questionou novamente as medidas anunciadas por Dilma:
— A presidente da República protagonizou um momento patético da vida pública deste país. Ela utilizou um instrumento de Estado, que é a cadeia de rádio e televisão, para fazer proselitismo político para atacar adversário. As medidas que ela anuncia vêm na direção daquilo que já vinhamos defendendo há muito tempo. O reajuste (do Bolsa Família) não atende ao crescimento inflacionário — afirmou.
Aécio acrescentou ainda que Dilma "acha que a crise da Petrobras é culpa da oposição, mas é daqueles que fizeram dela um balcão de empregos".
Eduardo Campos chegou atrasado, depois que os shows musicais já haviam recomeçado e evitou, assim, o encontro com Aécio e Gilberto Carvalho. Em um discurso de apenas dois minutos, o pré-candidato do PSB se comprometeu a não mexer com os direitos dos trabalhadores num eventual governo. O pré-candidato do PSB voltou a repetir o discurso de mudança e contra a velha política.
— Brasília está de costas para o Brasil. Brasília tem o pacto dos velhos políticos, contra o povo, contra a distribuição de renda , contra os trabalhadores.
Depois do discurso do pré-candidato do PSB, Paulinho pediu novamente que o público repetisse o gesto da banana para Dilma. Campos ficou constrangido e disse, em entrevista, que o debate na eleição deve se dar com respeito aos adversários.
O ex-governador de Pernambuco também criticou o pronunciamento da Dilma em rede nacional.
— O que nós vimos foi mais uma fala eleitoral do que a fala de presidente da República. O fato da presidente anunciar o aumento do Bolsa Família é uma medida que vem reparar as perdas da inflação que ela mesmo deixou acelerar nos alimentos e retirou o poder de compra das famílias mais pobres —comentou.
Petistas não discursam em ato da CUT
Na festa da CUT, no Vale do Anhagabaú, no Centro de São Paulo, políticos petistas — como o prefeito Fernando Haddad, o pré-candidato ao governo do estado Alexandre Padilha e o ministro Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) — foram impedidos de fazer os discursos porque o público, impaciente pela retomada dos shows musicais, vaiou e atirou papéis, latas e garrafas contra o palco.
Pela programação do evento, os discursos deveriam durar uma hora, mas acabaram abreviados em poucos minutos. O primeiro a subir seria Haddad, mas, tão logo seu nome foi anunciado, o público (estimado em 3 mil pessoas pela Polícia Militar, ou 80 mil, segundo os organizadores) reagiu. Indignado, o prefeito foi embora sem falar com a imprensa.
O apresentador tentou acalmar o público exaltado, pedindo calma, e chegou a dizer que "o ato político era importante". Berzoini também foi recebido com vaias e impedido de discursar. Padilha, ao pegar o microfone, logo lançou uma pergunta:
— Quem é contra o racismo?
As pessoas ergueram os braços e Padilha aproveitou o momento e resumiu seu discurso à saudação única "bom dia, boa tarde e boa noite". E logo deixou o palco e foi embora. O senador Eduardo Suplicy também só agradeceu ao público e a festa seguiu com os shows.
Publicado no Globo de hoje.

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