Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa -
22.4.2014
| 12h00m
Oskar Kokoschka (1886-1980) pintor expressionista austríaco, morreu levando consigo a mágoa de ter concluído que viver para sua arte, acreditando que ela seria o caminho da revelação, fora em vão. Esquecido e incompreendido, vítima das novas escolas que se sucediam em grande velocidade após a II Guerra Mundial, o velho mestre sentiu-se como uma nota de pé de página na História das Artes do Século XX.
Kokoschka, que 'sonhava' suas telas em três dimensões, não podia saber mas aos poucos sua influência seria reconhecida. Chamado de enfant terrible da Viena de Klimt e Freud, os críticos o descrevem como a figura que inspirou toda uma geração de artistas.
O pintor, que sempre acreditou em presságios, levava muito a sério o grande incêndio que destruiu sua aldeia natal, Pörchlarn, na hora em que sua mãe entrava em trabalho de parto. Isso o convenceu que estava destinado a buscar o olhar iluminado que lhe permitiria ver "a aura que os homens projetam no espaço".
Muito criticado no início da carreira por seu estilo radical e pela forte expressividade que colocava em suas telas, justo numa época em que a claridade, a harmonia e a mensagem eram o que importava, apesar da declaração de Klimt de que Kokoschka era o maior talento da nova geração, em Viena ele não foi bem aceito nos meios artísticos.
Em 1910, Kokoschka emigrou para Berlim, cidade que era mais aberta às novidades que sua amada Viena. Lá, graças ao mecenas Albert Loos, ele conseguiu viver e pintar. Loos foi seu embaixador junto à intelectualidade berlinense. Mas os clientes não compreendiam bem os retratos quando prontos: o pintor sustentava que seus retratos permitiriam ao retratado ver como seriam sua vida e seu aspecto com o passar do tempo, o que nem sempre agradava ao modelo.
Kokoscha foi um pintor de muito talento, mas como ser humano era pouco 'talentoso': era teimoso e intolerante, assim como o tempo em que vivia era cruel e duro. O austríaco foi classificado pelos nazistas como um daqueles pintores degenerados que o regime de Hitler abominava. Mais uma vez, Oskar Kokoschka teve que abandonar sua vida e recomeçar outra vida em outro país.
Conseguiu sair do continente e foi para a Inglaterra. Em 1946 recebeu a cidadania inglesa. Deixou uma obra imensa, hoje em dia espalhada por diversos museus pelo mundo. E morreu com o coração partido: o grande amor de sua vida, Alma Mahler, não o queria mais. Seu quadro mais famoso, A Noiva do Vento, retrata o amor que vivieu com essa bela e instigante mulher, viúva do compositor Gustav Mahler e mais tarde mulher do arquiteto da Bauhaus, Walter Gropius. Alma abandonou Kokoschka por não suportar a intensidade da paixão que ele nutria por ela.
Kokoschka ainda trocaria de pouso uma última vez. Foi para a Suiça numa das suas inúteis tentativas de recomeçar outra vida e assim esquecer sua adorada Alma. Faleceu em Montreux, aos 93 anos.
Autoretrato (1917), óleo sobre tela, 79 x 63 cm
Von der Heydt-Museum, Wuppertal, Alemanha
Von der Heydt-Museum, Wuppertal, Alemanha
Adolf Loos (1919), óleo sobre tela, 74 x 91 cm.
Galeria de Arte Moderna, Museus do Estado, Berlim
Galeria de Arte Moderna, Museus do Estado, Berlim
A Noiva do Vento (1913/1914), óleo sobre tela, 181 x 220cm
Kuntsmuseum Basel, Suiça
Kuntsmuseum Basel, Suiça
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