terça-feira, 22 de abril de 2014

Cartas de Berlim: O negócio do futebol, por Albert Steinberger


Cresci ouvindo que o Brasil era o país do futebol. Ultimamente, eu, que sempre fui apaixonado pelo esporte, tenho visto na Alemanha um sentimento muito parecido com o nosso. A grande diferença é que aqui existe um ambiente propício para esta paixão crescer. Na última semana, quase oito anos depois do mundial daqui, visitei três dos estádios que sediaram jogos da Copa do Mundo de 2006.
Cada um deles está ligado à equipes com níveis de futebol bem diferentes. O Allianz Arena em Munique pertence ao atual campeão do mundo de clubes Bayern. O HDI-Arena em Hannover é gerido pelo Hannover 96, um clube de meio de tabela da Bundesliga e que neste ano luta contra o rebaixamento. Por fim, fui a Leipzig visitar a Red Bull Arena que é a casa do RB Leipzig, um time criado pela empresa de energéticos e que neste momento está na terceira divisão do futebol alemão.
Apesar de nos gramados estarem, em alguns casos, estrelas do futebol mundial e em outros ilustres desconhecidos, as arquibancadas estavam sempre cheias. No jogo da terceira divisão estavam presentes mais de 39 mil torcedores.


O futebol alemão é mundialmente conhecido exatamente por isso, ser o campeonato com a melhor média de público do mundo. Para se ter uma ideia, a segunda divisão da Alemanha atrai mais torcedores do que o nosso Brasileirão.
Nestas visitas vi modelos de negócio muito sólidos. Cada clube sabe a torcida que tem, o tamanho da cidade em que está e o potencial de crescimento. Em 2003, o estádio do Hannover foi reformado pensando-se exatamente nisso. A Copa do Mundo lá sempre foi vista como algo passageiro, digamos assim, um meio, mas nunca um fim por si só.
Assim, o Hannover 96 conseguem manter uma média impressionante de mais de 45 mil torcedores por jogo. Dentro disso, estão previsto desde lugares para quem quer ficar em pé até camarotes para empresários.
No Bayern de Munique, que tem as maiores empresas alemãs como patrocinadoras, grandes negócios são fechados nos camarotes, durante os jogos. Nem por isso, o preço dos estádios é inacessível. Pelo contrário, os ingressos mais caros possibilitam financeiramente ingressos a preços populares.
Já no Brasil, no ano passado, eu tive vergonha de ver o time para o qual torço, Flamengo, subir extorsivamente o preço dos ingressos da final da Copa do Brasil. Isto é feito por diversos clubes do Brasil, uma lei de mercado focada no lucro do curto prazo que deixa o torcedor sem opções e acaba o afastando dos estádios.
O modelo alemão parece colocar o torcedor no centro de tudo, como consumidor mesmo. Trata-se de um negócio, em que se oferece um ambiente seguro e a preços acessíveis para homens ou mulheres das mais diferentes idades e rendas se divertirem. E olha que dentro de campo a equipe nem precisa ser lá estas coisas.

Albert Steinberger é repórter freelancer, ciclista e curioso. Formado em Jornalismo pela UnB, fez um mestrado em Jornalismo de Televisão na Golsmiths College, University of London. Atualmente, mora em Berlim de onde trabalha como repórter multimídia para jornais, sites e TVs. Escreve qui todas as terças-feiras.

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