sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Cartas de Seattle: O melhor amigo do homem também é o melhor vendedor


Melissa de Andrade
Essa tendência que os moradores de Seattle têm de valorizar a autenticidade das pequenas lojas como uma alternativa à padronização das grandes cadeias de varejo gerou um fenômeno na profissionalização do pequeno empreendedor local: a informalidade como fator de diferenciação.
Já que não podem competir com o preço das grandes marcas, cafés e butiques oferecem personalização no atendimento e no ambiente, para que o cliente sinta que está tendo uma experiência única, que não poderia ter em outro estabelecimento. Muitas apostam em atrações à parte: bichos de estimação que “vivem” na loja.
Pense em uma loja de materiais delicados como ervas aromáticas e sabonetes, os vidrinhos e potinhos cuidadosamente arrumados em mesinhas de vidro redondas de várias alturas, com um sofazinho em estilo vitoriano num canto.
Agora pense em um cachorro de grande porte, tipo um golden retriever, abandonando o rabo pela loja. Minha primeira reação foi procurar o dono, achei logo que era um cão-guia que tinha se soltado da coleira, só podia ser, daquele tamanho numa loja daquelas.
“A loja é dele”, me disse a dona, revelando a importância do bichinho. “Já está acostumado, não derruba nada. E ainda ajuda os clientes a decidir as melhores fragrâncias.” Então tá.


O gerente de uma loja de materiais de arte em Capitol Hill, o bairro moderninho da cidade, jura que tem gente que só vai lá para “falar” com a gata de estimação. “Eles trazem comida, caminha, brinquedo. Ela tem mais amigos do que eu”, diverte-se. “Ela” é Zelda, a gata branca de olhos bem azuis, que gosta de ficar na seção de pintura. Coincidência ou não, é a que tem mais procura.
E que tal entrar numa loja de consertos de bicicleta, meio de transporte muito comum por aqui, e dar de frente com uma espécie de Capitão Gancho urbano, com boné servindo de chapéu, óculos de grau em vez de tapa-olho e um gato no ombro, no lugar do papagaio?
Arnold tem cara de quem não arreda as patas dali por nada nesse mundo. E o atendente, John, tem cara de que andar com um gato no ombro é a coisa mais normal do mundo.
Os exemplos são muitos. Claro que oferecer um bom serviço também é importante – mesmo em Seattle, ninguém vai ficar frequentando um lugar medíocre só para apoiar um empreendimento local que tenha um poodle simpático.
Mas a aposta desses empresários é que a interação positiva com os bichinhos acabe se refletindo também no reforço da marca da loja junto à clientela. Numa cidade que tem mais casas com bicho de estimação do que com criança, a estratégia faz todo o sentido.

Melissa de Andrade é jornalista com mestrado em Negócios Digitais no Reino Unido. Ama teatro, gérberas cor de laranja e seus três gatinhos. Atua como estrategista de Conteúdo e de Mídias Sociais em Seattle, de onde mantém o blog Preview e, às sextas, escreve para o Blog do Noblat.

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