quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

2014: o ano que já acabou - ALEXANDRE SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 01/01/14

Não parece provável que o governo se engaje em um esforço de austeridade às vésperas da eleição


Não que eu acredite muito nisto. Se aprendi algo ao longo dos anos, é que eventos inesperados têm o péssimo hábito de ocorrer justamente quando não se espera e cenários que parecem dados --como baixo crescimento e alta inflação em 2014-- podem tomar rumos surpreendentes.

Isto dito, para ser sincero, creio mesmo que este ano não será muito diferente de 2013, mas o verdadeiro objeto do título não é exatamente o desempenho concreto da economia, mas sim a percepção de que, apesar dos problemas, são baixas as chances de mudança na política econômica, ao menos até 2015.

Não há economista sério que não esteja, em algum grau, preocupado com os desenvolvimentos recentes. Mesmo os que, até há pouco, faziam da defesa da política econômica um estilo (quando não um meio) de vida já começaram, cautelosamente, a recuar de suas trincheiras.

A expansão medíocre do produto, a inflação mal e mal contida a golpes de controles diretos de preços, o crescente deficit externo, somados ao desempenho pífio da produtividade, sugerem que o atual arranjo de política é insustentável.

Há, a bem da verdade, exemplos de países que mantiveram (ou mantêm) situações insustentáveis por períodos até bastante longos, alguns do quais desconfortavelmente próximos, mas não há casos de economias que tenham prosperado sob essas condições. Pelo contrário, há sempre um momento em que a farsa se desfaz e a crise sobrevém.

Sabe-se, portanto, ser necessária uma mudança nos rumos de política econômica para evitar que o país atinja um estado do qual não conseguirá sair sem consequências dolorosas. É cada vez mais claro, em particular, que o governo precisa encarar um considerável ajuste fiscal, principalmente no que se refere às suas despesas.

Não se requer, contudo, nenhum conhecimento político mais profundo para concluir que --tendo evitado fazê-lo sob condições eleitorais mais favoráveis-- não parece nada provável que o governo possa se engajar em um esforço de austeridade às vésperas da eleição. Ainda que Brasília acene timidamente com promessas de não piorar adicionalmente seu já lamentável desempenho, os Estados, crescentemente livres das amarras previamente impostas pela União, devem aumentar ainda mais seus gastos.

Por outro lado, o Banco Central sinaliza com a interrupção do processo de aperto monetário ainda no primeiro trimestre, mantendo a taxa de juros em níveis que seus próprios modelos apontam ser incompatíveis com o retorno da inflação à meta até ao menos o final de 2015.

É nesse aspecto preciso que o ano que hoje se inicia parece já ter terminado. Os dados da política econômica estão lançados: o que irá ocorrer em 2014, portanto, está determinado deste ponto de vista. O ambiente externo e outros fenômenos imprevisíveis terminarão de dar forma à economia neste ano, mas a contribuição do governo foi feita.

A dúvida (talvez a esperança) que persiste refere-se a 2015. Um novo governo se instalará (muito provavelmente, a continuação do atual) e terá a oportunidade de promover os ajustes requeridos livre da camisa de força eleitoral. Resta saber se a aproveitará.

Confesso meu pessimismo. No cenário político mais provável, isto é, continuidade, a vitória nas eleições dificilmente poderia ser interpretada como pedido de mudança --muito pelo contrário.

A menos que alterações sejam impostas por desenvolvimentos desfavoráveis no front externo (por exemplo, um rebaixamento das notas do país, ameaçando o grau de investimento), a tendência, creio, seria a de redobrar a aposta fracassada: piora fiscal, descaso com a inflação e intervenção indiscriminada, predominando a ideologia onde deveria governar o pragmatismo.

E, aí sim, iremos testar os limites da sustentabilidade e atribuir nosso fracasso à "guerra psicológica".

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