quarta-feira, 17 de julho de 2013

Sebastião Nery: O mausoléu do Coronel


Posted: 16 Jul 2013 04:58 PM PDT
Sebastião Nery

São Luís, MA – Fernando Sarney, o filho empresário do senador José Sarney, pegou de manhã o ex-presidente de Portugal, Mario Soares, no belo São Luis Resort Hotel, na praia do Calhau, aqui em São Luis, e o levou à casa do pai, um majestoso e coronelado quarteirão cheio de arvores e todo cercado de muro branco, bem ao lado do hotel.

Quando entraram, Fernando foi logo com Mario Soares para um salão repleto de riquíssima coleção de objetos e imagens sacras de muitos séculos. Fernando mostrando, explicando, e Mario Soares olhando, perguntando, surpreso com tanto santo, de tantos séculos, na coleção de um cristão só. Depois de ver tudo, Mario Soares foi saindo:

- Tudo bem, obrigado, já vi o museu, agora me leve à casa do Sarney.

Sarney vinha chegando. Só então Mario Soares percebeu que o museu era apenas uma sala do casarão do “Coronel do Calhau”.

Sarney
A marca macabra do letrado acadêmico dono da casa está logo na entrada. O portão de ferro do casarão, antigo, esverdeado e patinado, é um secular portal tirado do tombado cemitério de Alcântara. As duas pilastras de granito que sustentam o portão também saíram do cemitério de Alcântara.

O magico e fúnebre sopro da morte não está só aí. Castro Alves, cantando a batalha do “2 de Julho” da Bahia, disse que “o anjo da morte pálido cosia uma vasta mortalha em Pirajá”. A maior batalha de Sarney, aqui no Maranhão, nem foi, como se poderia imaginar, a trágica e acachapante derrota de Roseana na eleição para governador. É a luta por seu mausoléu:

- “Num belíssmo jardim, no pátio externo do Convento, cercado de imensas palmeiras imperiais e de um exemplar de pau-brasil, está um retângulo, com três metros de largura por seis de comprimento, isolado por grossas correntes de ferro e coberto de granito preto”. O mausoléu do coronel.

Oligarquia
É uma historia metade Freud metade Odorico Paraguassu. Está contada em dois excelentes livros maranhenses : - “Sob o Signo da Morte : o Poder Oligárquico de Vitorino a Sarney”, do professor Wagner Cabral da Costa, mestre da Unicamp, “uma radiografia do poder oligárquico”:

- “Sarney pretende erigir em seu nome um museu-mausoléu em São Luis. Por meio de uma fundação privada e utilizando-se de uma vasta rede de trafico de influencia, que abarca vários governadores do Estado, Assembléia, Justiça, Senado, pretende estabelecer uma espécie de Taj-Mahal maranhense, um monumento à morte, que celebra a dominação política dos vivos”.

O outro é “O Caso do Convento das Mercês”, do jovem jornalista, formado em Políticas Publicas pela Fundação Getúlio Vargas, Emilio Azevedo. Minuciosamente, documentadamente, ele conta a historia de um esperto golpe dado por Sarney e seus amigos para transformar o histórico Convento das Mercês, patrimônio publico, em propriedade familiar.

Convento
1. – “Poucos dias antes de deixar a Presidência da Republica em 1990, Sarney vai ao cartório de sua irmã, em São Luis, e cria a Fundação José Sarney, para ter, ilegalmente, a posse, o domínio, a propriedade do histórico Convento das Mercês, onde o Padre Antonio Vieira fez muitos de seus sermões. Tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional, com mais de 3 seculos e meio de historia, comprado pelo Estado à Arquidiocese de São Luis em 1905, ocupa uma área de 6.500 m2, integrando um conjunto arquitetônico considerado pela UNESCO Patrimônio Cultural da Humanidade”.

2. – Em 90, o governador Cafeteira, aliado de Sarney, gastou 9 milhões e meio de dolares na reforma do Convento, propôs e a Assembléia aprovou sua doação para uma “Fundação da Memoria Republicana”. Era um disfarce. Logo o nome foi trocado para “Fundação José Sarney”. Assumindo, o vice João Alberto, o “Carcará”, assessor de Sarney, fez um decreto de “uma doação firme e valiosa (sic) transferindo para a Fundação José Sarney todo o domínio, posse, direito e ação sobre o Convento, para que possa usar e gozar livremente como seu”. E pôs a doação em “escritura publica em cartório,em junho de 90”.

Senado e Supremo
3. – O deputado Freitas Diniz, dos Autênticos do MDB e fundador do PT, protestou. O Ministério Público denunciou e a Assembléia aprovou projeto do deputado Aderson Lago “anulando a doação” e “assegurando ao acervo privado do Memorial do ex-presidente a permanência no Convento”. Mas o Senado, numa ação de curriola jamais vista, foi ao Supremo Tribunal “em defesa dos direitos de um senador”. E o Supremo, minusculo, anulou a decisão da Assembléia e garantiu o Convento como propriedade dos Sarney. 

4. – Em entrevista à “Carta Capital” de 23 de novembro de 2005, Sarney disse que seu mausoléu “será um atrativo turístico e, no futuro, até ponto de peregrinação” (sic). E começou a faturar o mausoléu. Alem dos US$9,5 milhões já gastos, a Fundação alugou ao Estado parte do Convento por R$80 mil mensais, recebeu mais R$1.139.142,72, tomou R$1.348,005,00 da Petrobrás, tem gordas verbas anuais do Orçamentos Federal e comercializa para casamentos, festas, quermesses, shows. Nunca se viu cova tão rentável.


Mansão de Sarney

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