Carlos Chagas
Razões jurídicas determinaram que Roberto Jefferson não fosse incluído na relação dos mensaleiros que na última sexta-feira tiveram expedidos seus mandatos de prisão. Talvez razões humanitárias também tenham pesado na decisão do presidente Joaquim Barbosa. Porque o ex-deputado passou por séria doença da qual não se recuperou totalmente. Se incluído no grupo transferido para Brasília, certamente nova escala teria sido acrescentada no percurso do avião da Polícia Federal. De São Paulo, a aeronave voaria ao Rio para embarcar o novo passageiro e só depois para Belo Horizonte e a capital federal. Como reagiriam José Dirceu e José Genoíno, até então os dois únicos passageiros recolhidos no aeroporto de Congonhas, quando no Santos Dumont entrasse o ex-presidente do PTB?
Claro que cada condenado viajou com um agente da PF a tiracolo, sentado a seu lado, mas ninguém ficou proibido de falar, apesar da falta de vontade. De falar e de demonstrar por gestos a sua indignação. Entreveros físicos, se tentados, certamente seriam evitados pelos policiais, mas quando os sete mensaleiros mineiros embarcassem, que reação teriam ao ver Roberto Jefferson numa das poltronas?
Depois, no micro-ônibus que transportou a quadrilha do aeroporto de Brasília ao conjunto penitenciário da Papuda, comprimidos em espaço reduzido, qual seria o comportamento verbal da maioria diante do delator de todo o escândalo? E diante da hipótese de dividir um alojamento com outros condenados a prisão semi-aberta? Beliches ou triliches próximos? Refeições e banho de sol isolados?
Está por horas a decretação da prisão de outros mensaleiros, inclusive Roberto Jefferson. Pode ser que o juiz das Execuções Penais decida, antes da passagem do novo grupo pela capital federal, mandar os que já chegaram para estabelecimentos próximos de suas residências, nos estados onde moram. Só que se isso não acontecer, o risco do constrangimento será grande, em meio a um convívio impossível. Na Câmara, pelo menos, sempre havia um corredor para desafetos escaparem…
FALHA TÉCNICA
Será que ninguém no Supremo Tribunal Federal e na Polícia Federal desconfiou de que Henrique Pizzolato pretendia escafeder-se? Nada transpirou durante os meses em que, já condenado, traçava seu roteiro de fuga? O que dizer dele supostamente estar há 45 dias em seu apartamento mas não ser visto sequer pelo porteiro? Nenhum aviso genérico nos postos de fronteira, relativos à quadrilha inteira?
O mínimo a supor é que depois de condenados os mensaleiros deveriam estar sendo monitorados. Mesmo com seus passaportes do Brasil e da Itália confiscados, Pizzolato deve ter utilizado documentos falsos. A máfia das falsificações é relativamente pequena, será que nenhum informante deu com a língua nos dentes? Eis aí grave falha técnica.
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