Sandra Starling
Nosso país – com a exceção do que estão fazendo os Black Blocs e Anonymous e outros mais anônimos ainda – anda carecendo de bons debates.
Se Marina prega a volta ao “tripé”, se Dilma acha que regime de partilha não é um tipo de privatização, se Aécio continua à espera de Serra, e Eduardo Campos vai debater economia em Londres, é melhor mesmo que o debate sobre as biografias continue. Porque, pelo menos assim, a gente debate algo que presta.
Aliás, continuo desconfiada de que o fio da meada é só um deus chamado dinheiro (ah, como é bom revisitar Aristófanes!), pois, no fundo, no fundo, tudo se resolveria se os direitos autorais fossem divididos entre personagens, herdeiros e biógrafos. Maldita herança de bens materiais, fonte de todas, TODAS, absolutamente todas as dissoluções familiares – e os hipócritas ainda vêm falar que o divórcio é que acabou com as famílias.
O que sempre acaba e acabou com as famílias foi o direito de herança: os herdeiros à beira do túmulo, ou pós-túmulo, fazendo as contas de quanto cabe a cada um deles, inclusive o viúvo ou, quase sempre, a viúva – que acaba tendo, no fim da vida, vida muito melhor do que a que gozara na companhia do(a) finado(a), ainda mais que esse(a) já vinha se finando há muito tempo e só lhe dava, a ela ou ele, cônjuge, o trabalho de aguentar seus arrotos, sua cólica, seu vagar insone pela imensa casa ou exagerado apartamento… Isso, claro, para quem pode deixar herança num país onde poucos têm o que deixar.
Mas voltemos às biografias. Quem se envereda por esse debate, pelo lado do dinheiro, precisa saber que nesse assunto Roberto Carlos não é o rei. Antes, muito antes dele, em 1963, depois da Copa do Mundo de 1962, Pelé, então Rei do Futebol, também quis partilhar porcentagem com as vendas do livro de Mário Rodrigues Filho, “Viagem em Torno de Pelé”, publicado pela Editora do Autor, porque o jogador passara horas e horas dando entrevistas em Viña del Mar.
CENSURA PRÉVIA
E, para quem discute se é ou não censura prévia, é bom saber que nessa matéria nosso país sempre foi extremamente errático. Vamos a ela: quase todas as peças de Nelson Rodrigues, escritas depois do fim da ditadura de Vargas, foram censuradas para apresentação em palco, e uma delas, “Álbum de Família” – que ficou mais de 20 anos proibida –, só pôde ser encenada em 1967, em plena ditadura militar, quando já havia de novo a censura explícita.
Da censura de Vargas, também fez uso o presidente mais democrático do país, Juscelino Kubitschek, ao proibir a divulgação da música de Billy Blanco contra a mudança da capital do Rio para Brasília… Sabiam disso?! E o mais interessante de tudo é que essa informação sobre censura, praticada por JK, eu a obtive no blog de Chico Buarque, que cita a “Enciclopédia da Música Brasileira” (Art. Editora, 1998) e também a entrevista com Billy Blanco feita por Fernando Faro no programa “MPB Especial”, incluído no CD gravado pelo Sesc em 2000…
Esperemos o próximo round dessa história, entre Paula Lavigne e o dr. Kakay!… (transcrito de O Tempo)
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