data: 23 setembro 2013 | seção : deborah srour
por Deborah Srour – A moda parece que pegou. Depois do artigo de Putin no jornal The New York Times, foi a vez de Bashar Al-Assad dar uma entrevista para a Fox News e logo em seguida, o novo presidente do Irã, Ayatollah Hassan Rouhani falar com a NBC. Estes tiranos decidiram que o caminho é convencer a opinião pública americana que não vale a pena atacá-los.
Apesar de calmo e falando um inglês quase perfeito, Assad mostrou momentos de delírio como quando disse que não há guerra civil na Síria afirmando que todos os rebeldes são terroristas estrangeiros da Al-Qaeda. Como era esperado, Assad descreveu as complicações em lidar com seu arsenal de armas químicas e que para destruí-lo levará vários anos e irá custar 1 Bilhão de dólares. E pelo que os especialistas falam, este montante não é irrazoável. Assad terminou a entrevista convidando os americanos a pagarem a conta.
Aí foi a vez de Rouhani na NBC. Sua entrevista foi ao ar justo antes dele viajar para os Estados Unidos para a abertura da Assembléia Geral da ONU. Rouhani não perdeu o sorriso nem uma vez, parecendo mais um benigno avô que o maior patrocinador do terrorismo mundial. Ele evitou responder questões sobre o Holocausto, dizendo ser um político e não historiador. Eu fiquei imaginando se esta foi a resposta que ele colocou nos exames de história na escola… quando perguntado sobre Israel ele disse que o Irã procura a paz mas que Israel é o país desestabilizador do Oriente Médio, ocupador e opressor da população local. Mas reiterou que o Irã não está em busca de armas nucleares.
A grande pergunta é se Obama pode confiar no que Assad ou Rouhani dizem. Se procurarmos exemplos no passado, não precisamos ir muito longe. Vamos começar com a Hezbollah.
Numa manhã de verão em 2006, terroristas da Hezbollah mataram oito soldados israelenses e roubaram dois corpos provocando a Segunda Guerra do Líbano. Durante o conflito que durou um mês, eles lançaram mais de 4 mil mísseis contra civis o que fez com que Israel praticamente destruísse Beirute. A conclusão da guerra foi um acordo negociado pelo Conselho de Segurança da ONU na Resolução 1701 e vivamente louvado por Ehud Olmert e Tzipi Livni, como uma grande vitória do seu governo.
O artigo 8 da Resolução estabelece uma área no sul do Líbano entre a fronteira de Israel e o Rio Litani livre de armamentos e pessoas armadas exceto membros do exército libanês e da UNIFIL enviada pela ONU para garantir o cumprimento da Resolução. Hoje, 7 anos depois, alguém pode dizer realisticamente que os mísseis desapareceram? Israel está mais segura? Foram as promessas cumpridas?
A resposta é que não somente elas não foram cumpridas mas a Hezbollah conseguiu multiplicar em várias vezes seu arsenal e hoje Israel está bem menos segura que em 2006. E quem enviou todos estes mísseis para a Hezbollah? O líder da Síria, Bashar Al-Assad. Mas a Síria não fabrica mísseis. Quem está por trás da Síria? Não outro que o Irã. De fato, Hassan Nasrallah, o líder da Hezbollah, há menos de um ano se gabou na rede de TV Al-Manar que “se Israel ficou chocada com o número de mísseis Fajr-5 que alcançaram Tel Aviv em 2006, o que farão quando milhares destes mísseis cairão em todo Israel se invadirem o Líbano? Os Fajrs são de fabricação iraniana.
Outro grande exemplo é a Coreia do Norte. Há um ótimo artigo da jornalista Caroline Glick to Jerusalem Post de hoje detalhando toda a evolução das negociações com o país comunista para abandonar seu programa nuclear. Em resumo, a Coreia do Norte assinou o tratado contra a proliferação de armas nucleares em 1985. Em 1992 ela foi declarada em violação ao tratado. Em 1993 a Coréia do Norte anunciou sua intenção de renunciar ao tratado mas que estaria disposta a negociar com os Estados Unidos.
As negociações começaram em 1994. Em troca de fechar sua instalação em Yongbyon a América construiria usinas nucleares de água leve para gerar energia elétrica e forneceria petróleo até que estivessem prontas. Em 2002 os coreanos reconheceram estar enriquecendo urânio ilegalmente e em 2003 renunciaram ao tratado.
Em 2005 a Coreia do Norte anunciou ter um arsenal nuclear e em outubro de 2006 testou sua primeira bomba. A resposta dos Estados Unidos foi de voltar à mesa de negociações e em 2007 a Coréia do Norte concordou em fechar outra vez Yongbyon em troca de mais carregamentos de petróleo. Em 2007, Israel destruiu um reator nuclear na Síria idêntico ao de Yongbyon.
Em 2008, os americanos ficaram com medo que o enriquecimento de urânio não tivesse cessado e para mostrar boa vontade, retiraram a Coreia do Norte da lista de países patrocinadores do terrorismo. Seis meses mais tarde os coreanos haviam reaberto o reator e um mês mais tarde conduziram mais um teste nuclear. Hoje a Coreia do Norte tem 4 mil centrífugas em operação e produz urânio enriquecido suficiente para 3 bombas nucleares por ano. Este ano eles conduziram mais um teste e passaram para a produção de plutônio. Apesar de tudo isso, Obama continua engajado nas negociações e nenhum ato de boa vontade com a Coreia do Norte foi revogado.
Será que Israel pode colocar qualquer fé na capacidade da comunidade internacional e especialmente dos Estados Unidos de realmente agir inequivocamente em relação à estes ditadores e grupos terroristas? Podemos confiar em qualquer acordo promovido pelos russos que continuam a construir usinas no Irã e a fornecer armas à Síria?
Está claro que o Irã sabe da história da América com a Coréia do Norte e está tentando reproduzir este modelo. Será um golpe de mestre se ao final o Irã conseguir relaxar as sanções econômicas e continuar com seu programa nuclear até estar pronto para rejeitar o tratado de não proliferação de armas nucleares.
Está claro que o Irã sabe da história da América com a Coréia do Norte e está tentando reproduzir este modelo. Será um golpe de mestre se ao final o Irã conseguir relaxar as sanções econômicas e continuar com seu programa nuclear até estar pronto para rejeitar o tratado de não proliferação de armas nucleares.
Esta abertura é um presente para Obama que desde sua campanha está tentando trazer os Ayatollahs para a mesa de negociação. Para tanto Obama fechou os olhos para a revolução de 2009 no Irã esperando que este ato criasse uma oportunidade para ele. Na época não foi, mas agora, Obama diz estar pronto para testar o Irã. Israel e outros países árabes na região estão muito nervosos.
Num editorial no prestigioso jornal árabe Al-Sharq al Awsat baseado em Londres, o jornal diz que nada que Obama possa fazer irá convencer os iranianos a abandonarem seu programa nuclear e que ao final, testar o Irã não trará qualquer resultado positivo.
A política iraniana desde a revolução de Khomeini tem sido consistente em seu objetivo expansionista. Suas ações no Iraque mostram persistência e com a retirada das tropas americanas o Irã está cantando vitória. O mesmo se deu com este acordo na Síria. A declaração de Obama sobre testar o Irã mostra que Washington ainda não aprendeu as lições do passado e em vez de aumentar a pressão, a América está dando a Rouhani a oportunidade que ele precisa tão desesperadamente, política e economicamente. Com a guerra civil na Síria, é o Irã que precisa de uma mudança diplomática, não Obama.
Dada a história do Irã na região e o fato de Rouhani se ter gabado no passado de ter enganado a comunidade internacional quando foi secretário do Conselho Nacional de Segurança Nacional que controla o programa nuclear no Irã, é impossível contar com ele. O que a administração americana está fazendo é só confirmar a imagem de Obama como um líder fraco com uma política hesitante no Oriente Médio. Nesta região ações contam mais do que palavras.
E há um provérbio em inglês que Obama deveria lembrar: Engane-me uma vez, a vergonha é sua, engane-me duas vezes, a vergonha é minha. Infelizmente, estamos perante um novo capítulo da política de apaziguamento de Obama que ao final só trará vantagem ao Irã.
Transcrito do site www.pletz.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário