Na primeira entrevista com minha orientadora de tese, ela me perguntou desde quando eu era parisiense. Achei engraçado, mas é verdade que os parisienses não são as pessoas que nascem em Paris, você se transforma em parisiense.
Ser parisiense é ficar 45 minutos no metrô para ir a qualquer parte e comemorar quando o trajeto não ultrapassa 30 minutos. Ser parisiense é andar muito rápido, ainda que não se tenha horário marcado ou onde ir. É referir-se às linhas do metrô pelos números e não pelas cores e sorrir ironicamente quando alguém pergunta “Onde fica o centro de Paris?”.
Ser parisiense é saber a diferença entre os bairros, ainda que para um forasteiro “todos pareçam iguais”, é chamar aChamps Élysées de “Champs”, mas nunca colocar os pés lá. É saber onde pagar barato por uma cerveja, mas pelo menos uma vez na vida ser obrigado a pagar mais de 10 euros por ela.
Ser parisiense é saber que o verão pode durar dois dias e o inverno dois anos. É fazer piqueniques em parques, praças, jardins e às margens do rio Sena. Ser parisiense é ver a Torre Eiffel de vários ângulos diferentes, várias vezes por dia, e achar isto normal.
Ser parisiense é pagar quase 1.000 euros para morar no sexto andar de um prédio sem elevador, em um apartamento de 20 m², construído há mais de 100 anos. Ser parisiense é não conhecer seus vizinhos, mas ouvir tudo o que eles fazem através das paredes.
Ser parisiense é ter horror a pombas e aprender a convier com ratos. Ser parisiense é reclamar muito, de tudo, o tempo todo. Ser parisiense é nunca conseguir um táxi depois da meia noite e correr para pegar o último metrô.
Ser parisiense é não ter carro e, muitas vezes, nem carteira de motorista. Ser parisiense é ter uma “carte Navigo” para usar o transporte público, uma “carte Vélib” para as bicicletas de livre serviço e uma “carte Le Pass” para o cinema. Ser parisiense é gostar de Paris no verão, quando a cidade fica vazia.
Ser parisiense é sempre planejar ir embora e ver os amigos partir. Ser parisiense é fazer festas temáticas e convidar 30 pessoas para um apartamento de 30 m² sem se preocupar onde vão se sentar. Ser parisiense é ter os maiores museus do mundo à disposição, as exposições e obras de arte mais importantes da história, milhares de espetáculos e shows em cartaz todas as noites e invejar os turistas que podem aproveitar.
Ser parisiense é conhecer todos os problemas de Paris, mas ainda assim, achar que esta é a cidade mais bonita do mundo.
Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela escreve aqui todas as quintas-feiras.
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