- Senadores rejeitaram em votação secreta indicação de Vladimir Barros Aras, escolhido pelo procurador-geral para compor colegiado
BRASÍLIA — No momento em que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), responde às manifestações e aprova pacote de transparência com adoção do voto aberto para todas as votações no Congresso, 17 senadores usaram o voto secreto para, em retaliação ao procurador geral da República, Roberto Gurgel, rejeitar a indicação do procurador da República Vladimir Barros Aras, para o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Maior autoridade na investigação de lavagem de dinheiro, o procurador baiano foi escolhido por unanimidade pelo Ministério Público Federal, e indicado pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Precisava de 41 votos sim para aprovar no plenário, mas o resultado foi 38 votos sim e 17 não. Foram votados 12 indicações de autoridades, só Aras foi rejeitado.
Após a proclamação do resultado, três outros senadores votaram, mas Renan foi inflexível aos apelos para que reconsiderasse o resultado. Citando precedentes, o senador Pedro Taques (PDT-MT) tentou convencer Renan, que não reconsiderou e o líder do PT, Wellington Dias (PI), apresentou um recurso à Comissão de Constituição e Justiça, onde , na sabatina, a indicação de Aras foi aprovada por 16 votos a dois. Maior inimigo de Gurgel no Parlamento, o senador Fernando Collor de Melo (PTB-AL) ficou na Mesa, ao lado de Renan, depois de articular votos não no plenário.
A rejeição se deu ao final de uma série de discursos elogiosos, principalmente exaltando a especialidade do procurador em investigar crimes de lavagem de dinheiro. O senador Walter Pinheiro (PT-BA) , maior defensor do conterrâneo, ficou transtornado com o resultado e com a resistência de Renan em reconsiderar os votos dos senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Aécio Neves (PSDB-MG) e do líder do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira (SP), que completaria os 41 votos necessários para a aprovação.
— Isso é covardia! Retaliar o Gurgel com um cara que foi indicado por unanimidade por uma corporação inteira? Se querem retaliar porque não enfrentam o Gurgel de frente? Vão lá e batam no Gurgel! Mas retaliar o baiano que não tem nada com isso? Isso é um absurdo, uma piração! — reagiu Pinheiro, aos gritos, depois de tentar, sem sucesso, reverter a decisão de Renan.
Os senadores Pedro Taques (PDT-MT), Lídice da Mata (PSB-BA) e Randolfe Rodrigues fizeram questões de ordem, argumentando que em outras votações tinha sido possível a reconsideração, por decisão da Mesa.
— Eu gostaria muito que houvesse essa reconsideração, mas não podemos colher votos depois de apurado o resultado — respondeu Renan a Lídice, mostrando um ato da Mesa inviabilizando o pedido.
— Mas um ato da Mesa pode ser revogado. A Mesa tem essa prerrogativa — insistiu Walter Pinheiro.
Por fim, Taques citou uma brecha no regimento que poderia ser usada para a revisão da votação. Mas Renan respondeu que isso só foi possível em votação simbólica, antes do resultado anunciado. Restou a Wellington Dias recorrer à CCJ.
— Estão achando que o Aras é um nome do Gurgel. Mas ele só oficializou a indicação do Ministério Público Federal. É a maior autoridade no Brasil em investigação de lavagem de dinheiro — disse Taques.
— Não é justo! Se foi retaliação, atingiram um procurador que não tem nada a ver com isso. Se tem alguém irritado com o Gurgel, não pode fazer vingança em cima de um cara que não tem nada a ver com isso — criticou o senador Romero Jucá (PMDB-RR).
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