Brilham de forma mais intensa os olhos da maioria dos deputados federais e dos senadores de todos os partidos – alguns deles do próprio PT.
No final da tarde de ontem, um deputado do PMDB do Nordeste aproveitou uma roda de colegas na Câmara para cantar baixinho, feliz, o estribilho de antiga música da dupla Antonio Carlos e Jocafi:
“Você abusou / tirou partido de mim abusou / tirou partido de mim abusou / tirou partido de mim abusou...”
O alvo de tanta felicidade: a presidente Dilma Rousseff.
A hora do troco chegou!
Como Dilma imaginou enfrentar o ronco das ruas?
Jogando nas costas do Congresso o peso das reclamações.
De sua parte, fez pouco para conter a ira dos manifestantes. Disse que investirá R$ 50 bilhões em transporte, prometeu contratar milhares de médicos, até mesmo estrangeiros se necessário, e o que mais?
Em seguida, sacou da bolsinha de mão o que imaginava serem três poderosos trunfos: um plebiscito, uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva e a reforma política.
Por meio de um plebiscito, o povo diria sim ou não à convocação de uma Constituinte exclusiva para fazer a reforma política que o Congresso ignora.
O trunfo da Constituinte foi pelo ralo menos de 24 horas depois. “Para a solução atual, não se faz necessária uma Constituinte. Ou seja, não se faz necessária romper a ordem jurídica”, decretou Michel Temer, vice-presidente da República.
Juristas de peso deram razão a Temer.
O trunfo do plebiscito começou a perder seu valor quando Dilma encaminhou, ontem, ao Congresso sugestões para a reforma política.
O que ela e o PT querem é que os efeitos da reforma se façam sentir nas eleições gerais do próximo ano, o que poderia beneficiá-los.
Para isso o Congresso seria obrigado a aprovar a reforma até 5 de outubro – um ano antes das próximas eleições.
Se isso não for possível, as consequências da reforma só incidiriam sobre as eleições de 2016.
A Justiça Eleitoral deu a entender que dificilmente haverá tempo para realizar o plebiscito e aprovar a reforma no Congresso até o dia 5 de outubro.
O PSB, aliado do governo, defendeu que o plebiscito coincida com as eleições de 2014.
O PMDB da Câmara dos Deputados não quer ouvir falar em plebiscito para já. E se puder dará um jeito para que a reforma política acabe outra vez esquecida.
Em resumo: por tratá-los mal, Dilma abusou dos políticos.
Por terem sido abusados, e diante da queda dela nas pesquisas de intenção de voto, eles agem para enfraquece-la ainda mais.
Está em curso a peleja da amadora contra os profissionais. O resultado é previsível.
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