12/06/2013
Lívia Dornelles
É o focinho de um cão que aparece num plano inclinado e entalhado contra um espaço vazio de cor ocre. Nada mais, isso é o todo do quadro. Contudo aquele cão, confinado na parte baixa do retângulo, perdido na imensidade dourada que o circunda, parece que vai engolir tudo e comunica uma vertigem quase metafísica.
O pintor se vale de uma palheta pobre, de poucas cores, onde eliminou tudo que poderia parecer supérfluo. Não existe paisagem, e a realidade é irreconhecível. Nenhum detalhe, parece até ser uma abstração. A imagem é capturada numa exígua porção do visível. É impossível dizer o que esteja ocorrendo com o cão ou onde esteja. Trata-se de u’a mancha escura que começa a girar-se para a direita, escondendo seu corpo em uma massa de lama que surge num deserto arenoso.
Mas que algo esteja acontecendo o revelam as pupilas assustadas, um nariz úmido e preto, as orelhas peludas com tira brancas. O olhos do cão, voltados para o alto procuram um sinal ou esperam alguma coisa, que no entanto não se materializa, fazendo-o desesperadamente só.
Esse quadro não teve título e o pintou Francisco Goya (*) mais ou menos am 1820, faz parte de que se chama a “Fase Negra” de sua arte (Pinturas Negras de Goya)
Lendo meu colega , historiador Voltaire Schilling ( ele formou-se na mesma turma de meu curso, mas já era um autodidata). Voltaire fala de Goya como o “pintor das mil caras”.
Ele foi um pintor, que deixou como marca a multiplicidade nos temas que retratou em sua obra. Nascido em Fuendetodos, aldeia da província de Saragoça, em 30m de março de 1746, capital de Aragão, Francisco de Goya, aos treze anos, adentrava à no Atelier de José Martinez Luzán, para fazer da sua profissão de pintor, seu destino e consagração. Ainda que rejeitado pela Real Academia de belas Artes de Madri e após uma proveitosa viagem à Itália, no ano de 1770, ele abandonou definitivamente sua província. Graças ao empenho de Francisco Bayeu, seu cunhado e mestre, chegou à corte, na capital. O grande Velásquez, morto em 1660, tinha em fim , um sucessor a sua altura.
Na imagem acima, mais ampliada, pode se observar a fragilidade e sensibilidade do pintor, ao retratar na tela, o olhar do mais fiel companheiro do homem, o cão que pertence ao que foi chamada de “Fase Negra” de Goya. E que particularmente a esta humilde colaboradora deste jornal e encantada por de obras de arte retratadas em tela, seria a sua obra suprema.
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